O último cartucho de Manuel Alegre é exigir que Cavaco Silva esclareça se fugiu ou não à Sisa. Isto é conversa de quem se está a candidatar à Câmbra de Murgunhenha-de-Cima!
Como no outro dia ouvi o João Pereira Coutinho dizer: "os candidatos desconhecem a Constituição". Querem exemplo mais notório que este?
«Caso seja eleito Presidente da República e caso a direita vá para o poder, a revisão da Constituição “não passará” e acrescenta “comigo não irão por aí”» Tendo em conta que, segundo a própria Constituição, ”O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão“ constitucional isto quer dizer o quê?
in Blasfémias.
A imagem de credibilidade e honestidade de um homem, cultivada e solidificada ao longo de anos, não se destrói por ataques indirectos ou estilhaços. Mesmo que por muito se insista. Só com ataques cirúrgicos, certeiros e fatais.
Tudo o resto, à imagem de um filme de ficção científica, são disparos inofensivos sobre um escudo reflector. E como se sabe, os ricochetes são imprevisíveis. Uma vezes, bem que mordem os calcanhares dos autores dos disparos.
Todos os dias vejo Cavaco nos Telejornais. De repente, tem sempre algo a dizer sobre e para o país. Aquele que Alegre acusou - e bem - como um "gestor de silêncios" utiliza agora a presidência como um meio para promover a sua candidatura e fala até que a voz lhe doa. Qualquer outro faria o mesmo, inclusive aquele que sabe desde pequeno quantos cantos tem Os Lusíadas. De lamentar é Cavaco não ter utilizado o palco da mesma forma durante o resto do seu mandato para algumas crises por onde fomos passando, nomeadamente, a da Justiça que para mim foi a mais gritante e com maior repercusssões na confiança que este país não inspira.
Mas enfim, pelo menos, agora que descobriu o palco, teve a razoabilidade e decência de nos poupar os outdoors. Dificilmente outro Socialista faria o mesmo..
O inevitável Alegre estava díficil de engolir, mas acabou por ser tragado, tal como se esperava. De côdea para empurrar o sapo serviu parte da direita que nestes últimos dias desencadeou uma birra com Cavaco, o impuro. Com a ajuda deles, José Sócrates - pese a falta de apetite, ainda para mais contra Soares - conseguiu libertar um sorriso e encontrar espaço para enviar um recado ao actual Presidente da República: "agradecemos, mas o esforço feito para agradar a Gregos e Troianos não foi suficiente. Precisamos de um progressista dos nossos!"
E da mesma forma que Sócrates teve de engolir um sapo para fortalecer uma candidatura de esquerda, também parte da direita portuguesa terá de enfiar a viola no saco caso queira continuar a dizer que tem um presidente que é seu. É que ainda para mais, por culpa do próprio, a reeleição de Cavaco já não está tão certa quanto isso...
Os poetas vêem as balas de outra forma, talvez por isso lhes dêem tão facilmente o peito, o que normalmente lhes sai caro. A Manuel Alegre não, dar o peito às balas tem-lo feito sorrir e ainda lhe trará a rosa aos pés. Mais poético? Impossível...
Outros, talvez por pertencerem ao domínios das economias, perderam o coração pela razão e escolhem outros caminhos. Mais tortuosos, mais calculistas, mas igualmente legítimos:
"Descuidam-se" nas intenções de veto que deixam transparecer cá para fora e medem o pulso ao eleitorado. Dão avisos sobre o TGV e as grandes obras públicas, mas depois dizem estar a generalizar para qualquer caso e país da Europa. Vigilantes e astutos não se assumem, nem criam ondas. Estudam terrenos. Partindo da direita assegurada, a dúvida é só uma: até que ponto da esquerda lhe é possível penetrar. E por isso vão fazendo testes, prospecção até que saia petróleo ou bata em rocha dura.
Cavaco não fala sobre eleições, mas já ninguém acredita que esteja a presidir sem segundas intenções. Logo quem...
Alegre tem, como Cavaco, uma candidatura suprapartidária. A diferença é que do primeiro se conhece melhor os seus limites que do segundo, que ainda os anda a estudar.
E o que chove lá fora?
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