Hoje à noite há jogo. Espero que a troika vá ver. Ficará surpreendida quando no final vir o que poupamos em electricidade.
Sócrates já mandou relvar a AR para entregar o título às escuras e sob intensa rega por aspersão, enquanto Passos Coelho foi de sorriso-miúdo desencantar ao baú a gabardine laranja do tempo de Sá Carneiro.
"O Benfica é como eu: vai ao Porto para não fazer nada e comer bem" - Miguel Esteves Cardoso.
Não vale perder na esperança de poder ver um futebolista mandar calar toda uma nação benfiquista!
Estamos perante mais uma saída pouco segura de Roberto.
Acabo de buzinar aos ouvidos de um gajo que fez uma manobra tão estúpida que só visto. Pois, o senhor, em vez de esticar o dedo ou ter saído disparado a chamar nomes aos filhos da vizinha, acenou-me com um V de Vitória!
Eu juro que não aguento isto assim. Quero o meu país de volta. Um país em que a bolsa não toca máximos históricos, em que as pessoas sob stress soltam a pressão no desconhecido que estiver mais à mão e em que o único sorriso passível de transportarem na cara tenha origem sexualmente conhecida. Para não reconhecer a minha pátria já me bastava este clima alterado e o bónus do Mexia. Qualquer dia isto muda tanto que em vez de darem indultos com a vinda do Papa, aumentam os impostos!
Dia 30 de Abril, Sócrates dizia na Assembleia da República que não iria aumentar impostos. Dizia isto peremptório e em tom sarcástico - como é seu costume - a Heloísa Apolónia e a Paulo Portas. Entretanto o Benfica sagrou-se campeão e enquanto o povo está ébrio, a rapaziada que faz dos outros parvos, mas que não é parva, aproveita para testar um eventual aumento de impostos.
Da janela do escritório não vejo ninguém contra. Dos que se manifestam - que são dois -, a julgar pelas faces rosadas e o cachecóis cravejados de tinto, diria que não estão propriamente a falar nisto. Logo, que interessa que por si o adiamento da terceira travessia do Tejo e do novo aeroporto de Lisboa permita baixar o défice de 8,3 para 7,3 sem mexida na carga fiscal, se aparentemente há espaço para uma subida de impostos que patrocine a teimosia do TGV? Já alguém perguntou quanto baixaria o défice se se abandonasse o projecto? Talvez desse para deixar de lado durante um bom tempo a constante ameaça de aumento da carga fiscal.
A Igreja Católica está radiante: nas últimas horas deu-se um boom de registos de bebés com o nome de Jesus.
O trânsito em Lisboa só se faz num sentido e é naquele que vai dar ao Marquês. Tudo o resto está deserto. De carro ou a pé, os adeptos cospem-se por entre SLBês e brejeirices que incluem sempre a profissão menos digna da mãe de um amigo do bairro e a palavra preferida do mini Quim Barreiros. De cachecóis atados ao pulso ou brandindo-os como se de cowboys se tratassem, veneram-se os "rateres" dos motões, as buzinas já sem gás e - para mal dos nossos pecados - a South African Vuvuzela. Os bons momentos políticos entremeam-se com o jargão futebolístico e logo ao principio da noite não há quem resista a um:
"Este é que é o meu Presidente! O Cavaco que vá pró *****!!" - sobre esse grande líder espiritual não-sei-bem-do-quê, Luís Filipe Vieira.
E a noite segue e a política também:
"Mais feliz, só se o ***** do Sócrates saltasse do poleiro!!Festejava até ao fim da semana!" - o que não era difícil numa semana muitíssimo tolerada no ponto e na religião.
"Agora quero ver se aqueles filhos ** **** nos continuam a baixar nos ratings!" - é o que sai logo a seguir sobre a temática financeira da UE -
E é assim, Portugal, por entre palavrões, domina outros assuntos muito além da bola e conquista, por via do Benfica, um novo alento para combater a crise. Nem imagino a depressão em que cairíamos caso o Braga alcançasse os seus intentos. Não haveria Papa que nos alimentasse a alma...
Há um bocadinho de Neandertal dentro de nós, adianta o Público. No caso das claques que se irão defrontar - sim, porque elas também se defrontam num "jogo" paralelo, não são só os futebolistas - o bocadinho é manifestamente maior! Diria mais: Há um bocadinho de Homem Moderno nesses adeptos.
Depois de tão afamada reserva, o Benfica não apareceu pelo Marquês. Dizem que ficou para o próximo fim-de-semana. Mas dizem mal. Quem reserva para hoje e não aparece, não é bem-vindo amanhã. São regras básicas da restauração. E quem não janta fora, já se sabe, come em casa. Será?
Que o Benfica se mostre indiferente ainda é como o outro. Mas parece-me uma postura de bom senso, ainda que demasiado cavalheiresca para um clube como o da Luz - com esta já me condenei ao insulto - e que pode evitar o agravamento de problemas.
Que as forças policiais perante um grupo de Neandertais a apedrejar mamutes autocarros se contente com dois tiros de shot-gun para os dispersar, é que já não acho normal. Da última vez, nos Algarves, orgulharam-se de não ter detido mais de 2 ou 3 pessoas. Agora isto. Enquanto não avançarem para eles com a clara intenção de os pôr atrás das grades, nunca os outros adeptos ou as respectivas equipas poderão viajar descansadas, não condicionadas pelos ataques que possam vir a sofrer.
Ainda que possa parecer mal perguntar: será que se contentam por os dispersar, porque se os prenderem, é mais o tempo que demoram a preencher a papelada do que aquele que os vândalos ficam lá dentro?
Nada como amanhã não almoçar com os do costume. Um Sportinguista é magnânimo na vitória. Mesmo em tempos de vacas magras não serpenteia em extâse a cada vitória, optando antes por um festejo mais sóbrio, digno de Leão e não de Hiena aparvalhada pelo riso quando celebra um fausto manjar.
Já os Benfiquistas tornam-se insuportáveis nos seus "orgasmos múltiplos" que a cada buzinadela estérica parecem ter. São os novos-ricos dos golos, manifestando exuberantemente aquilo a que nunca estiveram habituados. Espero bem que ganhem o título e que consigam ficar com um sorriso pós-coital na face durante largos e bons meses. Desde que me deixem em paz...
A verdade é que o clube da Luz devia ganhar mais vezes, pois poucas coisas me fazem rir tanto como os festejos dos adeptos que gritam aos berros "Benfica" entre palavrões tipicamente portugueses. Barrigas a abanar, dentes a saltar, teorias do caralh******, alarvidades de cerveja e tremoço, e Portugal fica bem disposto durante os próximos 3 dias. Estas vitórias são uma espécie de orgasmo para o país que o deixa de sorriso de orelha a orelha e só por isso deviam ser recomendadas pela OMS.
Quanto ao Porto, depois de um monumental frango e dois golos na pá, vai para cima de mãos a abanar e a fazer estragos A1 fora sem que ninguém tenha mão neles. Ainda estou para saber quem, no seu perfeito juízo, aluga autocarros a tamanhos animais que partem janelas, atiram pedras e garrafas em andamento e debitam burrice pelos poros. Começo a achar que deviam fixar-lhes um letreiro de "transporte de animais vivos" nas costas das camionetas.
Não sendo adepto confesso destas coisas da bola, presto-lhe a atenção de quem vê o boletim meterológico para decidir o seu dia seguinte, mais propriamente no meu caso, para decidir o meu almoço de segunda.
Amanhã, reinará a Paz onde, normalmente, os da Luz discutem, até à morte, com os de Alvalade todos os lances da jornada. Os Leões vão estar embriagados pela vitória e os Benfiquistas felizes e contentes com a derrota do Porto. Com sorte, trocam as mortes pelos abraços e no limite ainda traçam planos para uma vida em conjunto. É o que sucede quando o FCP vai para casa de mãos a abanar.
Depois espantam-se que a costela mais bairrista do mundo vocifere palavras de ordem contra a Mouraria que, quando os vê na desgraça, festeja como se não existisse amanhã.
Felizmente não tenho ao almoço nenhum azul e branco pelo que vou comer descansado.
E o que chove lá fora?
Quiosque da D.Web