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República do Caústico

Tentando respirar em Auschwitz

19.03.10, João Maria Condeixa
Refém de um magnetismo indomável, há anos que a minha vontade tinha traçado Auschwitz como destino. E foi apenas com ela, um iPod e um depósito cheio que saí de Praga a meio da tarde e me dirigi ainda mais para Leste. ( continuar a ler... )   texto publicado no passado sábado na revista "Nós", do jornal i.  

Auschwitz-Birkenau (7)

22.02.10, João Maria Condeixa
 Bloco 11 (II) A descida até ao Inferno de Dante em Auschwitz faz-se pelas escadas do bloco 11. Pelos degraus estreitos e gastos agarro-me a um corrimão carcomido, já sem tinta e desço. Calco as minhas impressões digitais sobre as daqueles que desceram àquelas caves com destinos tão diferentes do meu: eu viria de lá de baixo com vida. A maioria terá lá ficado para sempre. As catacumbas do bloco 11 são em formato de labirinto e o tecto fica a uns 20 centímetros da minha (...)

Auschwitz-Birkenau (6)

18.02.10, João Maria Condeixa
Bloco 11  Saí da última sala do bloco 10 tentando reconfortar a alma com imagens felizes da minha infância. Mas a cada uma que via, mais a vergonha me entristecia, pelo que resolvi arrumar o assunto com um punhado de ar fresco. Cá fora seguíamos viagem para o bloco 11. Cada um a seu ritmo lá entrámos num pátio de terra batida cercado por sólidos muros de tijolo. Ao fundo do pátio, do outro lado, a parede que amparara tantas mortes quanto balas tinham sido ali (...)

Auschwitz-Birkenau (5)

08.02.10, João Maria Condeixa
 Bloco 10 (II)Ainda com a imagem daqueles prisioneiros que, numa espécie de canibalismo imposto, a tiritar de frio se enrolavam nos amigos ou familiares, dirijo-me a outra sala e afasto-me daquela rebuscada dança macabra. Mas na sala onde entro o choque recebe-nos à porta. Do lado diametralmente oposto fitam-me milhares de crianças a serem descarregadas dos vagões numa imensa fotografia a preto e branco que acaba apenas porque a parede assim o impôs. A olharem com desespero para a (...)

Auschwitz-Birkenau (4)

04.02.10, João Maria Condeixa
Bloco 10Desço as escadas do primeiro bloco e dirijo-me para a saída. Olho sobre o ombro com vontade de confirmar que nenhum dos que atrás me seguem têm riscas em fazenda grosseira e acabo por ver que trazem tatuada na cara a mesma amargura desbotada que eu. Lá fora um grupo de militares da força aérea Israelita fecha-se em círculo. Inspiro sôfregamente até bater no resto da ansiedade que ficara no diafragma e avanço um pouco mais. Não lhes podia mostrar que não (...)

Auschwitz-Birkenau (3)

02.02.10, João Maria Condeixa
Arbeit  Macht FreiA manhã rasgou ansiosa e o Sol de Outono tirou-me cedo do carro. Espreguicei-me o mais que pude como se pudesse adivinhar que dentro do campo iria mingar a cada passo. Birkenau ficaria para mais tarde. Havia que começar pelo princípio: Auschwitz I. Deixei-me acumular a um pequeno grupo e foi com eles que dei os primeiros passos pela  passadeira de gravilha. A receber-me de braços abertos estava o portão que me prometia libertar pelo trabalho. Mas eu era turista e (...)

Auschwitz-Birkenau 2

01.02.10, João Maria Condeixa
A chegadaJá de costas para a floresta e de volta às estradas de pez negro sigo as placas que em Polaco dizem Oświęcim. O nevoeiro vai sendo lentamente atropelado pelo meu carro e não me deixa seguir mais depressa. Ao fundo, as luzes amarelas distorcidas pelo frio e pela bruma são o único sinal de que Auschwitz está já ali. Vejo a primeira torre do campo e fico estarrecido, longe de perceber que o que me estava guardado para a manhã seguinte era infinitamente mais marcante. (...)

Auschwitz-Birkenau

31.01.10, João Maria Condeixa
   O caminho  Ainda que nada, nem ninguém, consiga explicar o magnetismo, há anos que o destino estava bem marcado na minha vontade. E foi apenas com ela, um iPod e o depósito cheio que saí de Praga a meio da tarde e me dirigi ainda mais para Leste.  Para trás ficara um mapa que só nos faz falta quando nos encontramos perdidos, já noite cerrada, algures na fronteira entre a República Checa e a Polónia. Fora da auto-estrada que fora cortada sem aviso prévio e depois (...)