Mortos pela ASAE no areal

Não foi só o "É frutóóóchocolate!" que morreu. Muitos outros pregões desapareceram. Uns vítimas do tempo e da concorrência, outros vítimas da ASAE que me quer salvar a vida, pôr menos hipertenso, deixar-me mais esbelto e escultural - como se isso fosse possível num Adónis como eu! - , mas que mergulha na clandestinidade centenas de vendedores ambulantes que nos tiram a sede e matam a fome.
É vê-los, de telemóvel em riste, comunicando uns com os outros para escapar à ofensiva higienofascista, agachando-se na areia como se estivessem na Normandia, rebolando por entre as dunas e gritando em murmúrio o que têm para vender. Esqueçam os pregões de peito cheio, de voz e esforço quase lírico. A ASAE matou-os a todos:
- É frutóóóóchocolat(e)! - favor notar que o último "E" é mudo. Killed In Action pela ASAE.
- Olhó Nogá! 3, cem, 3 cem! - este morreu com o escudo, mas a ASAE não permitiu que o seu sucessor vingasse.
- Olááááá fresquinho!!! - um símbolo morto. Um case study de marketing desfeito pela ASAE.
- Olhá a bolinha de Berlimm!!! - agora só sem creme, com saco de plástico (que não polui nada, pois claro!) e mesmo assim são apreendidas às centenas.
- Olhá a "linguéé" da Sogra!! - se fosse a humana, ainda se festejava a sua extinção, agora aquele canudo amolecido pelo calor, sal e areia - como a batata frita da praia, que ganha sabor único - faz cá muita falta!
É assim o mundo pós-higiénico. Mudo e sem cheta!