A CRP não é um livro de receitas

Por pouco não estava com Sócrates e contra Luís Amado e o meu próprio partido. Também não comungo da ideia de ver balizados na constituição o défice e a dívida pública. A constituição de um país não deve ser escrita pensando no potencial ou nas dificuldades económicas de uma nação e muito menos deve acautelar os possíveis falhanços dos ministérios das finanças. Admiti-los na CRP é começar mal de raíz.
Que culpa tem a constituição que Portugal tenha escolhido projectos e equipas nos últimos 30 anos que não tenham sabido equilibrar as contas públicas? Que solução milagrosa constituirá um tecto publicado no documento base do Estado? Nenhuma. Será apenas a desculpa perfeita para até esse limite não se equacionarem as medidas necessárias e só quando o alarme constitucional tocar,se passar à acção, de emergência e sobre o joelho, como até hoje se tem feito.
Portugal não precisa de uma Constituição com mais artigos e orientações. Precisa é que o pragmatismo político entenda que tem de sanar a falta de produtividade e cortar na despesa pública de uma vez por todas. E isso, um limite na constituição não ensina, nem explica.
Como se vê, estive quase do lado de Sócrates. A diferença é que ele não quer lá o limite para poder esticar ainda mais a corda. Enquanto para mim um limite na CRP já é estarmos a pensar em esticá-la.