Auschwitz-Birkenau (7)
Bloco 11 (II)
A descida até ao Inferno de Dante em Auschwitz faz-se pelas escadas do bloco 11. Pelos degraus estreitos e gastos agarro-me a um corrimão carcomido, já sem tinta e desço. Calco as minhas impressões digitais sobre as daqueles que desceram àquelas caves com destinos tão diferentes do meu: eu viria de lá de baixo com vida. A maioria terá lá ficado para sempre.
As catacumbas do bloco 11 são em formato de labirinto e o tecto fica a uns 20 centímetros da minha respiração. Mas a claustrofobia não mata já ali. Primeiro há que passar por celas minúsculas onde ficavam dezenas de ossos com vida à espera que lhes ditassem o destino. Uma das celas, a única aberta ao público, sem se mexer ou dizer uma palavra, muda-me por completo: dentro daquele bunker, onde o sol não chega, a terra nos aperta e o Inferno teve residência durante tantos anos, um gigantesco círio queima o mesmo oxigénio de 1945. Deixado por João Paulo II quase que me obriga a ajoelhar e a soltar a pergunta que já trazia presa de há tantos metros e horas atrás. Onde esteve Deus durante todo aquele tempo? Remoí as entranhas de católico praticante e tirei-a a ferros. E não recebendo resposta, deixei cair uma lágrima, sequei o nariz e segui viagem com um espaço por ocupar.
Viro à direita naquele labirinto e entro numa sala que não vem nos filmes...
(continua..)