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República do Caústico

Auschwitz-Birkenau (6)

18.02.10, João Maria Condeixa

Bloco 11

 

Saí da última sala do bloco 10 tentando reconfortar a alma com imagens felizes da minha infância. Mas a cada uma que via, mais a vergonha me entristecia, pelo que resolvi arrumar o assunto com um punhado de ar fresco. Cá fora seguíamos viagem para o bloco 11. Cada um a seu ritmo lá entrámos num pátio de terra batida cercado por sólidos muros de tijolo. Ao fundo do pátio, do outro lado, a parede que amparara tantas mortes quanto balas tinham sido ali desperdiçadas: "The Death Wall". Aquele painel de madeiras e estopa criado propositadamente para receber o sangue e a pólvora,  vira muitos entregarem-se ao alívio perante esquadrões de fuzilamento. Ao seu lado, ainda erguidos na vertical, os postes que terão sustido prisioneiros que ali antecipavam a sua partida à torreira do Sol, não chegando sequer a ser alvo de balas, tal era o seu esgotamento físico.

Mas ali ao ar livre, pelo menos, respirava-se. E não contente com isso a minha guia levou-me para dentro.

No corredor de entrada do bloco 11 fiadas de fotografias de um lado e outro recebem cada um que lá chega. São ínumeros prisioneiros, incontáveis perfis, que de uniforme às riscas nos dão as boas-vindas. Como se isso fosse possível. Por baixo de cada um, a data de chegada e a data de morte. Ao contrário do que Hollywood nos habituou, ali não houve lugar para heróis, nem Homens de Aço. Média de esperança de vida: 2 meses.Um corredor enorme cheio de pessoas expostas e nem um se afasta muito desses dois meses de pesadelo. Sinal que o uniforme que vestiam era à prova de insultos, humilhações, xenofobia, racismo, torturas e outros devaneios, mas não à prova de bala, à prova de fome ou de doenças. Por ali sucumbiram milhares arrastando pesarosa e ruidosamente os ossos. Já eu, passava pelo corredor sem sequer me ouvir. E assim segui, devagar, memorizando cada um ali presente, até chegar às caves de Dante do bloco 11...

(continua)

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