Visão de longo prazo e a falta que ela nos faz

Há famílias que vivem sempre em crise e que por isso adiam eternamente soluções de investimento que lhes aliviem as despesas correntes.
A família Estado - que às vezes se vai esquecendo que é descendente do Zé Povinho - é disso maior exemplo. Embora seja a maior proprietária de imóveis em Portugal, muitos dos quais resultantes de doações com indicações específicas do uso a dar, não foi capaz de encontrar tempo ou dinheiro para se mudar de um imóvel arrendado para um que lhe pertença. Por isso, ao mesmo tempo que arrenda monstros, tem por outro lado imóveis seus a cair ou subaproveitados. Claro que a coisa obriga a um investimento, a remodelações físicas, a obras e dores de cabeça, a empate de capital e a levantar pó e a arredar cadeiras. Mas pelo menos ficaria com uma coisa sua, arranjada e apropriada aos seus interesses, em vez de arrendar a terceiros deitando, como se costuma dizer, dinheiro à rua.
O retorno a médio-prazo, mesmo que fosse a longo, estaria garantido. Mas tal como aquelas famílias que eternamente vão adiando decisões deste género, o Estado vê-se, agora sim, com a necessidade premente de poupar e de cortar nas despesas mas com a impossibilidade ou falta de fundos para investir e o fazer.
Faltou-nos sempre visão de longo prazo. Por isso gastamos 57 milhões de euros por ano em imóveis arrendados. Ao próximo balão de oxigénio talvez fosse importante pensar nisto.