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República do Caústico

Diário de um turista na Palestina I

18.07.11, João Maria Condeixa

 

Companheir@s,

 

Belém é turístico. Experimentem antes Ramallah ou Jenin e vão ver que os sorrisos são igualmente generosos do lado Palestiniano, mas apreensivos por parte dos tropas Israelitas que lá estão. É que os senhores não têm especial prazer em fazer esse papel. Cumprem a defesa do seu território com uma M-16 a tiracolo e isso não dá especial prazer a ninguém. Ainda para mais quando têm o dever - provavelmente único no mundo - de defender o seu território ao mesmo tempo que recebem diariamente o inimigo no seu âmago para trabalhar, estudar ou apenas transitar.

 

Muitas famílias palestinianas têm o seu único ganha-pão no lado Israelita e os soldados imberbes - fica tão mais fácil passar a ideia de lavagem cerebral, doesn't it? - não lhes bloqueiam a vida como qualquer exército faria ao seu inimigo. Mas isso vocês não vêem!

Experimentem apanhar um autocarro dos verdes para Ramallah ( o 21 serve) e acompanhem um estudante palestiniano a tirar o curso em Jerusalém numa faculdade Israelita. Mas isso vocês não vêem! 

 

Antes do muro, as mortes na estrada por apedrejamento eram superiores às dos bombistas e o muro resolveu de forma não intrusiva esses dois problemas: o das pedras e o das bombas. Bem sei que aquele cimento todo assusta qualquer europeuzito de meia-tigela (a mim intimidou e não sou especialmente a seu favor) mas também não deixa de ser um "mundo ao contrário!": em vez da potência atacar, prefere fechar-se e proteger-se construindo um monstruoso casulo!

 

Experimentem comprar algumas coisas em Ramallah ou ir ao cinema em Jenin e perceberão que a matéria-prima foi fornecida pelo outro lado. Mas isso vocês já não vêem! Ou que um senhor de Jenin foi capaz de doar os órgãos do seu filho a gentes israelitas, coisa que vocês e a vossa ferocidade toda parecem nunca vir a ser capazes de fazer.

 

Experimentem atravessar num carro com matrícula israelita todo o território palestiniano sem que vos martirizem ou passem a receber pior por causa disso. Experimentem, e verão que deixarão o registo sensacionalista de algo que não é assim tão assustador. E só vos ficava bem, pois o efeito que provocam e patrocinam não é seguramente o da pacificidade por que anseiam.

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