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República do Caústico

Das fusões, eliminações e cortes (2)

06.07.11, João Maria Condeixa

Portugal por não ter gás não pode dar-se ao luxo de ter uma estrutura estatal como aquela que vi em Moscovo. Mais do que uma questão ideológica trata-se de uma postura pragmática de sobrevivência. Daí que a extinção e as fusões de alguns serviços sejam tão importantes e prioritárias.

 

Só que estas ao acontecerem lançam um custo sobre a taxa de desemprego - que pode subir - e sobre as responsabilidades sociais do Estado - que podem aumentar - num momento em que, já por si, toda a conjuntura alimenta a tendência destes dois factores. Mas não fazê-lo hipoteca ainda mais o futuro.

É preciso, portanto, coragem, mas também olho cirúrgico para que o corte não origine custos superiores, sejam eles financeiros ou de funcionamento. Mas estimando a gordura que temos, arriscaria a dizer que dificilmente atingiremos carne aos primeiros cortes, por isso força!

Das fusões, eliminações e cortes

06.07.11, João Maria Condeixa

Visto de longe, o Museu Tetryakov em Moscovo parece uma grande superfície capaz de concorrer com o Continente da Amadora ou o Jumbo de Gaia, mas sem terreno para estacionamento. Também não tem à porta a azáfama de entra-e-sai domingueira e a falta de sacos de plástico cheios de compras denuncia que ali não vamos encontrar lineares repletos de latas de atum.

 

Lá dentro está o recheio de um Museu de Arte Contemporânea bastante bom e surpreendente - não tão bom quanto o Pushkin, mas bom - e um exército de trabalhadores. Ora, era aqui que eu queria chegar, o resto foi latim acessório, desculpem!

 

Atrás do balcão do bengaleiro, 7 pessoas - 7! -aguardam a clientela que escasseia. De tal maneira que essas 7 pessoas se debruçam sobre o único molho de casacos que peço para guardar, como se de um bolo de chocolate numa creche se tratasse. Ao longo dos corredores outros tantos funcionários - quase tantos como o nº de ovos Fabergé do Kremlin - vão zelando pelos quadros e pelas estatísticas de desemprego moscovitas, que calculo que sejam reduzidíssimas. Lá fora, na rua, deixámos em cada esquina um varredor do Estado a limpar à vassourada aquilo que uma só máquina faria em vários quarteirões. Varre, com certeza, para debaixo do tapete, a ideia que todo aquele monstro poderá não ser muito sustentável. Só que a Rússia tem gás. E por isso vai continuar a marimbar-se. Mas país que não tem gás, não tem vícios. Hope you get my point.

 

(continua...)

Corta-se na despesa quando...

03.07.11, João Maria Condeixa

...se extingue o cargo de director adjunto da Segurança Social. São 18 que deixarão de existir. É 1 milhão e cem mil euros que se passa a poupar.

 

Depois do imposto anunciado quinta-feira era natural que as pessoas dissessem que vinha aí "mais do mesmo", que já tinham visto isto antes e que "são sempre os mesmos a pagar". Afinal de contas foram anos seguidos a ver impostos resolverem coisa nenhuma e a precederem mais impostos sem que cortes na despesa se verificassem.

 

Mas é por isso, e porque os contribuintes têm o tal limite de que falou Cavaco, que este Governo tem agora de mostrar que não está cá para continuar essa senda. Tem de mostrar que, ainda que tenha lançado este sacrifício sobre o subsídio de Natal, a sua principal vocação é cortar na despesa. No gordurento e seboso Estado.

 

O encaixe de 800 milhões resultante do imposto extraordinário é pequeno face às obrigações que Portugal contraiu. Mas irá coadjuvar os 1000 milhões que serão cortados na despesa, exercício que até agora não me lembro de ter visto praticado e que por isso vou passar a tentar enumerar. Depois dos cortes com os governos civis, este exemplo da extinção dos directores adjuntos da SS foi o segundo.

 

Espero, esperamos, que venham mais!

A diferença dos pequenos pormenores

01.07.11, João Maria Condeixa

Há uns anos, Guterres chamou-lhe um pântano e pirou-se. Depois foi Durão Barroso a dizer que o país estava de tanga e também acabou por sair. Sócrates, o profissional da desculpabilização, queixou-se do governo anterior, dos governos anteriores, da crise internacional, da oposição, do porteiro da AR, do pavão de S. Bento, enfim, de todos. Felizmente não conseguiu sair de fininho. Foi Portugal que o pôs na rua!

 

Face à herança recebida, este governo não abriu a boca. É mesmo outra geração e mais arejada. Pegou nas suas medidas e olhou para a frente, não perdendo tempo em culpabilizar o passado. É tempo de antecipar o futuro e não o ignorar - como até agora tinha sido feito -. Só assim se evitam derrapagens. Só assim se sai do buraco.

 

Mas falta agora começar a anunciar todos os cortes na despesa que permitam depois dar a folga que o contribuinte merece. Este passo de extinguir e começar já a vender o património dos governos civis é, espera-se, o primeiro sinal de muitos.

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