Andava eu na faculdade e Portugal nos primórdios da reciclagem quando num dia como outro qualquer fui enxovalhado por não saber fazer, tão bem quanto um chimpanzé que entretanto viria a aparecer nos anúncios televisivos, a separação das embalagens. Fui gozado, rotulado de retrógrado, irresponsável e criticado pela minha falta de pontualidade - nunca percebi esta parte da crítica. Será que a malta da Quercus é de uma pontualidade britânica? -.
Mas a verdade é que passado uns tempos lá lhes fui esfregar na fronha um jornal que dizia que a minha resistência à separação das embalagens não tinha sido tão ridícula quanto isso, já que o município em questão não estava preparado - por um problema burrocrático, embora tivesse contentores às corezinhas - para tratar o lixo separadamente. Ou seja, eles separavam aquilo que a Câmara fazia questão de juntar, antes de processar.
Eu, entretanto, fui corrigindo o meu pecado - embora admita que ainda me falta muito para ser um homem verde perfeito -, mas Portugal nem por isso. Continua, por problemas burocráticos, por indisponibilidade financeira ou porque fica bem para o momento eleitoral ou parece moderno, a pôr o carro à frente dos bois. Quantos projectos não sofrem do mesmo mal que este caso que vos mostrei?
Olhem para o exemplo do sangue que nos habituámos - e bem! - a dar e recolher, e que o Estado, por mero empecilho burrocrático seu - que dura há 10 anos! - não consegue separar e aproveitar. Gastam-se recursos na sensibilização e na recolha, mói-se a paciência a toda a gente, aflige-se meio mundo com um propósito benemérito de salvar a vida humana, mas depois, quando se passa a bola ao Estado, ele adormece de frente para a baliza escancarada.
Importam-se de ir ver se por igual burrocracia não acontece o mesmo aos órgãos doados?