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República do Caústico

Descubra as diferenças

20.06.11, João Maria Condeixa

Acabou o "Descubra as diferenças". Tive oportunidade de por lá passar umas vezes e de conhecer outras opiniões e, sobretudo, o André Abrantes Amaral e a Antonieta Lopes da Costa, que tiveram a ousadia de fazer um programa declaradamente parcial - coisa rara e pouco vista em Portugal-. O que é pena, pois como o André aqui diz, esse é um exercício que nos faz falta:

 

O ‘Descubra as Diferenças’ nunca escondeu a sua linha editorial: dar espaço à direita, conservadora e de preferência liberal, que pensa e escreve por aí. Dar voz a uma minoria quando a grande maioria é de esquerda e, mais ainda, socialista. É impossível ser-se neutral ou imparcial quando o país caminha para o desastre. Apenas os falsos o tentam ser, apenas os vazios, os que não existem, o são. Nunca acreditei no jornalismo que visa não ter opinião. Escrever, falar, implica opinar. Ora, quem o faz, deve fazê-lo de forma clara e esclarecedora. Nunca apreciei jornais, revistas que procuram todo o público, rendendo-se a ele, descaracterizando-se ao ponto de nada mais serem que uma mera amálgama de palavras. Qualquer debate político pressupõe uma tomada de posição, um esclarecimento prévio. Não há mal nenhum em dizer o que se pensa, se enganar e mudar de ideias. Não há mal nenhum em procurar ser-se minimamente verdadeiro, minimamente franco, minimamente leal, directo, na busca constante de um conhecimento que se quer objectivo. Apenas assim nos centramos nas políticas e esquecemos as tricas pessoais. Ganhamos nós que encetamos esse caminho e ganham todos os que nos ouvem e lêem.

 

A eles, os meus parabéns. Fica já a faltar qualquer coisa do género!

Na derrota, a sua primeira vitória

19.06.11, João Maria Condeixa

 

PPC tem na sua primeira potencial derrota, a primeiríssima oportunidade para, declaradamente, se assumir  diferente de José Sócrates e do seu governo. Fosse no passado e uma má opção teria já sido disfarçada, desmentida e distorcida até parecer que nunca tinha sido tomada. Passos Coelho tem de ir a jogo com a decisão que tomou - ainda que eu a ache má e frágil - para que não restem dúvidas que estamos perante outro género político.

 

A Nobre cabe proceder com igual coerência, saíndo pelo seu pé, minimizando assim os prejuízos sobre o partido que o acolheu e recuperando alguma da credibilidade política do passado.

 

O Onze de Passos Coelho

18.06.11, João Maria Condeixa

Este nosso estádio está cheio de velhos do Restelo que irão estranhar antes de entranhar. E por isso faltou compôr o ramalhete com um jogador reverencial. As claques reclamam mudanças, mas não gostam quando elas se fazem. As claques queixam-se de paternalismos, mas apavoram-se quando eles desaparecem. As claques pedem novos jogadores e tácticas - dizem mesmo que esse é um dos grandes males do país - mas amedrontam-se quando eles surgem. Para as satisfazer, faltou apenas esse pormenor na equipa. Alguém que não os fizesse temer a queda do céu sobre as cabeças.

 

Este é um onze inteiramente composto por rapaziada arejada e descomprometida de anteriores governos, corporações e, em grande parte, livre de partidarites - inflamação que é pior que uma ruptura do menisco -.

 

As ideias velhas já se tinham provado esgotadas e responsáveis pelas derrotas acumuladas. Esta rapaziada, que ainda não sofre de vícios - nem de estrelatos -, pode muito bem trazer as ideias que nos podem tirar do atoleiro onde nos acomodámos (talvez Nuno Crato e o eduquês sejam disso o melhor exemplo).

 

Além do mais, não herdando a camisola de ninguém, nem mesmo de Cavaco, é perfeita para implementar a táctica da Troika - pelo menos têm a desculpa para o fazer - e ousar ir mais além.

 

Falta ainda conhecer a equipa técnica, mas estou com vontade de os ver ir a jogo.

Conversas de café

16.06.11, João Maria Condeixa

O empregado de mesa acabou de me anunciar o governo todo em primeira mão. Disse-me todas as pastas, Secretarias de Estado e com sorte, se lhe tivesse perguntado, ainda me dizia os chefes de gabinete.

Nada mal para quem diz não ler notícias, nem ver televisão. Deve ter juntado peça a peça pelas conversas de café que ia ouvindo.

Em Portugal é assim, quem sabe, sabe. E o empregado de mesa, cunhado do taxista, é que sabe.

A burrocracia do Estado

15.06.11, João Maria Condeixa

Andava eu na faculdade e Portugal nos primórdios da reciclagem quando num dia como outro qualquer fui enxovalhado por não saber fazer, tão bem quanto um chimpanzé que entretanto viria a aparecer nos anúncios televisivos, a separação das embalagens. Fui gozado, rotulado de retrógrado, irresponsável e criticado pela minha falta de pontualidade - nunca percebi esta parte da crítica. Será que a malta da Quercus é de uma pontualidade britânica? -.

 

Mas a verdade é que passado uns tempos lá lhes fui esfregar na fronha um jornal que dizia que a minha resistência à separação das embalagens não tinha sido tão ridícula quanto isso, já que o município em questão não estava preparado - por um problema burrocrático, embora tivesse contentores às corezinhas - para tratar o lixo separadamente. Ou seja, eles separavam aquilo que a Câmara fazia questão de juntar, antes de processar.

 

Eu, entretanto, fui corrigindo o meu pecado - embora admita que ainda me falta muito para ser um homem verde perfeito -, mas Portugal nem por isso. Continua, por problemas burocráticos, por indisponibilidade financeira ou porque fica bem para o momento eleitoral ou parece moderno, a pôr o carro à frente dos bois. Quantos projectos não sofrem do mesmo mal que este caso que vos mostrei?

 

Olhem para o exemplo do sangue que nos habituámos - e bem! - a dar e recolher, e que o Estado, por mero empecilho burrocrático seu - que dura há 10 anos! - não consegue separar e aproveitar. Gastam-se recursos na sensibilização e na recolha, mói-se a paciência a toda a gente, aflige-se meio mundo com um propósito benemérito de salvar a vida humana, mas depois, quando se passa a bola ao Estado, ele adormece de frente para a baliza escancarada.

 

Importam-se de ir ver se por igual burrocracia não acontece o mesmo aos órgãos doados?

Pessoa, o incompreendido

14.06.11, João Maria Condeixa

Os portugueses não entendem Fernando Pessoa. Eu falo por mim e pela dificuldade que tenho em entender tudo o que dele vou lendo. Escapa-me. É triste termos tamanho génio sem que o compreendamos. Pior é com isso nos darmos por satisfeitos. Faz falta uma cultura pessoana, um motor que fomente a sua leitura e compreensão. E não a reclamem ao Estado:

 

Ontem ao entrar na Bertrand para comprar um qualquer livro passei pela estante da poesia sem que nada me saltasse à vista. Nem um único livro ou lembrete sobre o aniversário do poeta. A verdade é que muitas vezes o marketing falha onde mais nos faz falta. Nisso, o Google fez mais num dia que um grupo de professores numa década.

 

E com esta postura não é de estranhar que não o celebremos como devíamos ou que não o compreendamos. Enquanto isso o Brasil vai por ele se enamorando ao ponto de me espantar com o número de pessoas que o citam, conhecem e já o percebem. Por cá seguimos antes a máxima: casa de ferreiro, espeto de pau.