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República do Caústico

Um congresso não é uma convenção

21.03.11, João Maria Condeixa

Confio no projecto que o CDS guarda para o país, como sabem. Daí que não me espante que o rumo escolhido neste congresso seja, em grande parte, aquele que Portugal tanto precisa, hoje e no futuro. O CDS encontra-se mobilizado, unido e detém a alternativa programática e estratégica ao bloco central.

 

Só que o CDS terá de passar a aplicar para si aquilo que preconiza para o país, para que o crescimento que lhe ambiciona seja também o seu. Virar-se para fora, indo captar independentes, é imprescindível para que o projecto seja enriquecido. Mas deverá cuidar também dos de dentro: daqueles que se esforçam por permanecer até altas horas por falar mas que, após o desfile das ideias encomendadas, são ignorados pela direcção e demais congressistas; daqueles que aquém fronteiras e no estrangeiro pensam pela própria cabeça e fazem política de qualidade mas que, por estarem já fidelizados, são esquecidos ou passados para segundo plano; daqueles que dão o peito às balas mas que, quando ninguém dispara sobre o partido, são arrumados até a uma próxima oportunidade; daqueles que não aparecem só em vésperas de governação. Caso contrário, quando formos à procura desses, terão desmobilizado por falta de reconhecimento.

De resto, já bastam os problemas costumeiros dos partidos que, reféns das estruturas e do seu peso, hipotecam muita da sua liberdade e representatividade, do seu crescimento ou discurso.

 

O regresso a um congresso electivo poderá resolver parte destes problemas. É essa a minha esperança. O resto dependerá da atitude de todos.

O jogo de Sócrates: o último trunfo

17.03.11, João Maria Condeixa

É óbvio que Sócrates quer que o governo caia. Este é provavelmente o último momento para Sócrates se propôr a eleições e ainda conseguir ganhar. Mais tarde, depois do PSD ter consolidado o seu projecto e ter descolado em intenções de voto do PS, será muito mais dificil a Sócrates arregimentar forças para derrotar a direita. Para já, mesmo à esquerda que dele discorda, ainda consegue capitalizar votos. Mais tarde, depois de apertar ainda mais o cerco e de ir tropeçando nas trapalhadas e na pressão que desgasta todos, será impossível fazê-lo.

 

Daí que ter sacudido as SCUTS para o PSD, o ter encurralado entre os aplausos da UE e o esforço desmedido do governo calimero e não ter avisado nenhuma das partes para negociação, nem sequer ter dado um telefonema ao PR, faça, obviamente, tudo parte de uma estratégia para irmos a eleições. E quando o bloco central quer - e neste momento quere-o - não há nada mais a fazer. É uma questão de tempo. A crise política está aí e foi lançada pelo PS. Mas com um propósito de salvação próprio.

De volta ao centrão..

16.03.11, João Maria Condeixa

Se o país se precipitar em eleições antecipadas, o cenário mais provável será uma concentração de votos ao centro, uma vez que nem Passos Coelho, nem Sócrates, têm a coisa assegurada à partida. Perante isto o eleitorado tende a reagir com o voto  útil alimentando o bloco central, precisamente, um dos factores que nos trouxe até aqui. Este país não aprende e pelos vistos a manif de Sábado poderá ter valido de pouco.

 

Pela Avenida da Liberdade

14.03.11, João Maria Condeixa

 

Contrariamente ao que muitos tentam fazer passar, a manif contou com um mar de gente quase tão impressionante como o tsunami do Japão. Gente de esquerda que farta da própria esquerda roubou as ruas aos comités e aos berloques e se misturou com gente de direita, de pullover aos ombros, que se borrifou nos conselhos conservadores dos paizinhos e achou que, também para eles, era hora de mudar e assim se juntou a outros que lá estavam, uns de cabeças rapadas e vestidos de preto, outros de rastas com ganzas no bucho, na mona e, para reserva -  sobre a orelha; Mais uns com filhos ao colo, outros ao colo dos filhos. Uns de megafone em riste, outros de máquina fotográfica em punho ou de cartolina estridente. Todos descontentes com o actual estado das coisas. A manif foi pacífica, espôntanea e fez história.

 

Mas, tal como não sabia por que rua seguir depois do Rossio, também foi difícil perceber que rumo queria para o dia seguinte: se por um lado se queixava do presente, destes políticos e das reformas que lhes estavam a propôr, por outro lado recuperou Vitorino ou Fernando Tordo, como símbolos, esses que também foram símbolos da outra revolução e do modelo que nos trouxe até aqui. Também eles enquanto caras de uma revolução teimam em dar o lugar a outros.

Se por um lado se queixava de que as novas ideias e o futuro, não têm espaço em Portugal e que este país não é para jovens, por outro lado recuperava motes anacrónicos do 25 de Abril e reclamava para si conquistas dos papás que não se coadunam com a globalização e a constante mutação dos dias de hoje. Mais um pouco e propor-se-ia a uma nova constituição. Igual à que temos, mas nova, pois claro!

 

É por ter ido ao baú que esta onda, do tamanho do tsunami do Japão, não foi mais devastadora. Vai deixar mossa, é verdade. Mas apenas neste governo, quando o que se pretendia era que deixasse mossa nas consciências e no Estado.

 

Eu, por mim, não quero um país socialista, nem socializante. Preciso de uma Avenida da Liberdade num país mais liberal. Falta que os outros definam que Estado querem, para que isto mude de facto.