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República do Caústico

Enquanto pagar..

09.02.11, João Maria Condeixa

O Corpo de uma idosa esteve 9 anos num apartamento em Sintra à espera que dessem pela sua falta. Quem desencadeou a descoberta foi o Estado, pois a senhora durante esse período não pagou uma única factura do que quer que fosse - caso para dizer que não pagava nem morta - pelo que o Estado lhe ficou com o apartamento. A vizinhança, estranhando a ausência da velhota, o chavascal à porta de casa e a correspondência a transbordar na caixa de correio, bem que participou o desaparecimento às autoridades, mas como "não cheirava mal" - a GNR anda sem verbas para comprar Nasex - nunca chegaram a arrombar a porta para a procurarem. E durante 9 anos a senhora lá ficou até ser encontrada pela nova proprietária que adquiriu a dita casa - junto com a chave que ninguém encontrava - num leilão do Estado que teimava em não a procurar.

 

Prova que o desaparecimento do contribuinte só é grave quando deixa de pagar.

Sem direito a herdar nada. Dívidas muito menos!

09.02.11, João Maria Condeixa

Sobre a crise de gerações e a discussão que por aí anda sobre expectativas e heranças, em que uns se queixam de estar a deixar um país com mais estradas, pontes e letras do que aquele que recebeu - como se a tendência devesse ser ao contrário! - e outros se queixam do esforço que terão de fazer para ser um pouco mais que nada, talvez não seja má ideia ver a evolução dos alunos matriculados que se tem registado em Portugal nos últimos "30 anos":

Para quem é míope e não tem culpa da minha falta de jeito para colocar online gráficos desse excelente site que é o PORDATA passo a explicar: a geração que hoje se está a queixar de expectativas criadas e de ter viver num país com pés de barro é aquela que está a laranja. A geração do Ensino Superior, que explodiu pouco depois da entrada na UE e que foi desenvolvendo a mentalidade errada de que o canudo era a tábua de salvação, o emprego, o carro, a casa, o telemóvel topo de gama e o plasma que os paizinhos nunca tinham tido. Sim, essa mesma geração que agora tão convenientemente serve os propósitos do governo de combate ao desemprego ao perpetuar o seu percurso académico por entre pós-graduações, mestrados, doutoramentos e pós-docs que sabem que de pouco lhe servirá quando mais dia, menos dia, tiverem de enfrentar o mercado de trabalho, que em Portugal - também por culpa das opções políticas, mas não só - não acompanhou esse crescente de qualificação, queixa-se agora de ter sido enganada e defraudada.

 

Não assinou há 30 anos atrás nenhum contrato onde estivesse escrito que o seu futuro ia ser melhor, mas queixa-se. E muito embora se tenha deixado iludir e insista que tem direitos que nunca sequer lhe deviam ter sido encutidos - e esse é o seu maior mal - pode e deve queixar-se, pois essa sim, foi a melhor herança da geração anterior.

 

Se a geração "rasca", "500 euros","parva", "que vive em casa dos paizinhos", "à rasca" e outros tantos epítetos que lhe foram dando, se quer revoltar, pois que o faça. Deve é saber como. E uma das formas prioritárias deve ser denunciando o despesismo e compadrio que nos trouxe até aqui e que desperdiçou muitos dos fundos da UE, em vez de criar uma estrutura produtiva que desse sustentabilidade a Portugal. Deve ser isso que deve exigir e fazer. Pois se é verdade que não deve ter direito a herdar nada de mão beijada, também é verdade que não tem direito a herdar dívidas!

 

PS - o post vai longo, mas não queria deixar de alertar para a evolução que os primeiros ciclos têm vindo a sofrer - o decréscimo, como se vê no gráfico, tem sido acentuado - e para o GAP entre gerações que isso criará no futuro e que me parece não estar a ser acautelado.

Coisas que só o Professor Marcelo sabe fazer..

08.02.11, João Maria Condeixa

Dizem-me que Marcelo Rebelo de Sousa falou sobre o Egipto - não sei se com ou sem "pê" - e que versou sobre a escassa democracia que por lá se vivia, denunciando ao mesmo tempo aqueles que só recentemente repararam nesse défice. Dizem-me que apontou o dedo a esses que, não tendo agido em tempo útil tentando auxiliar a democratização real do território, têm uma quota parte de culpa pelo que agora se está a passar. No fundo disse aquilo que muitos já têm dito.

 

Então o que tem de surpreendente? É que tanto quanto me disseram estava a falar directamente de Angola, esse paraíso democrático que não precisa nada, mas mesmo nada, de ser denunciado.

O tema de Black Swan

07.02.11, João Maria Condeixa

Esqueçam a parte do bailado em Black Swan. O que ali é espelhado - sim, espelhado é realmente o melhor termo - é a automutilação, um fenómeno pouco falado e extremamente escondido da sociedade, em que a busca de eliminar o "eu" que vêem nos espelhos, para atingir um outro, que consideram mais perfeito, mas que, ao contrário do filme, jamais verão reflectido, obriga a pequenas punições e castigos que aliviam os "erros" cometidos.

 

Não fosse este o tema subliminar e Black Swan seria mais um filme sobre a insatisfação humana, a busca da perfeição e, nalguns casos, a consequente autodestruição.

Natalie Portman, brilhantemente, despe no filme e do seu percurso, um cisne branco para chegar à sua meta, o cisne negro. Na película isso custou-lhe a vida. Cá fora valer-lhe-á um óscar!

O que chove lá fora...

04.02.11, João Maria Condeixa

Badalhoquice institucional

03.02.11, João Maria Condeixa

Governo Belga ensina masturbação às crianças

Antes que o vírus da badalhoquice institucional se pegue - sim, porque deve haver por aí muito bom progressista português a pensar em importar já este tipo de ensinamentos prementes (!) e a magicar já a sequela para pós-adolescentes - convém fazer uma espécie de declaração de interesse acerca da masturbação: o ser humano, ao contrário do que o governo belga e alguns membros de esquerda poderão pensar, é muito mais instintivo e irracional, aprendendo ainda, à sombra dos seus primogénitos Neandertais, muitos ensinamentos com base numa corrida empírica que responda às suas necessidades.

 

Não precisa do Estado para ser mais feliz, nem de decretos para se aliviar fisiologicamente. Não carece de ter um manual de instruções para certas partes do corpo e respectivas funções, nem sequer de um grupo de activistas que de tão atormentados que estão com a sua própria sexualidade - Freud talvez explicasse melhor o que se passa com eles - se predispõem a invadir as nossas "partes mais íntimas" como se de um milheiral transgénico no Algarve ou de um navio de pesca de atum ilegal se tratasse.

 

Eles que são tão anarquistas numas coisas, tornam-se confrangedoramente reguladores e ditadores quando vêem uma oportunidade para içar mais uma bandeira de causas fracturantes. A educação sexual não é isto. Isto é destruir um equilibrio que existe no ser humano entre a sua parte racional e animal, despojando de natureza tudo aquilo que lhe pertence, apenas porque alguém um dia se lembrou de que as criancinhas tinham de ser encaminhadas até ao coito! E se fossem bugiar e pensar na crise do egipto ou na recuperação económica e deixassem para cada um e respectivas famílias e encarregados de educação estas questões que julgam tão prioritárias?

E a ditadura da mentira?

02.02.11, João Maria Condeixa

Enquanto as revoltas não dão a volta ao Mediterrâneo e chegam a Portugal para o povo começar a reclamar uma mudança de rumo - tenho essa leve esperança que isso aconteça antes da vinda do FMI - resta-nos ir assistindo com cara de muito parvos às diarreias que cada um vai tendo sobre o Egipto - também gosto do serviço público que a RTP está a prestar ao chamar-lhe Egito - e os seus restantes vizinhos.

 

É bom perceber que todos sabem imenso sobre aquela zona do globo e os regimes que por lá se respiram, quando até há bem pouco tempo a Tunísia era apenas uma estância de férias, o Egipto um enorme sarcófago a visitar - que muitos desconheciam ser uma ditadura - e a Jordânia e a Síria meros vizinhos de Israel, um com uma rainha gira e o outro com um armamento digno de registo.

 

Deixem de se armar em especialistas e em Nuno Rogeiros de segunda categoria - o que tem mais piada é que a maioria até gozava com o seu excesso de opinião antes dele se recolher - e passem antes para os assuntos internos. Ou já se esqueceram que por cá as coisas também estão a arder e que este mês já se começou a sentir a redução salarial e o aumento de impostos, o corte no dinheiro disponível para o consumo e consequente falta de circulação de moeda que, em conjunto com a falta de crédito para as poucas empresas produzirem, rebentará com a nossa saudável economia, tudo para alimentar a monstruosidade de uma despesa que teimosamente continua sem querer emagrecer, enquanto o vosso PM apregoa as 7 maravilhas do seu reinado com todos os ministros de que dispõe aterefados a inaugurarem escolas na tentativa quase alcançada de fazer esquecer os protestos - mais um, but who's counting? - na educação?

 

Isso, preocupem-se muito com os de fora e qualquer dia temos um a imolar-se na Praça da Figueira e só aí é que se vão lembrar que por cá imperava a ditadura da mentira.

Venha a RTP Memória

01.02.11, João Maria Condeixa

Pelo reino de David (2)

01.02.11, João Maria Condeixa

[post anterior]

(Damascus Gate, Jerusalem)

A chegada a Jerusalém faz-se de mapa na mão, bem junto aos olhos, tentando perceber por qual dos quatro quarteirões da cidade velha vamos entrar. As hipóteses estão definidas, explicitamente divididas e bem claras: Arménio, Cristão, Judeu e Muçulmano. A sorte e predisposição para estas coisas leva-me ao mais complicado, estranho e movimentado: entrar em Jerusalém pelo quarteirão Muçulmano atravessando a Porta de Damasco. É um mar de gente ao berros em árabe e hebraico. É um jogo do empurra entre peles morenas de barba negra e perspontanda e peles brancas de penugem aloirada ou grisalha que vão tentando andar. A minha mochila pesa 20 kgs, tem o volume no limite e é dia de mercado. O calor aperta e entalado entre tanta gente que me grita aos ouvidos sinto-me a "começar bem". No chão, escapando por pouco a esta manada de humanos, vendem-se bolos secos, toranjas, laranjas, romãs, azeitonas e um mar de outros produtos que por cá a ASAE faz refém. A rua que se segue é ingreme e com tanta gente e pisada durante tantos e tantos anos é normal que seja de lage bem polida.

 

Estou onde tudo começou. Estou na Terra Santa, na cidade santa e quase tudo o que agora vi seria inconcebível para um jornal ocidental. Ali, nesta rua do Quarteirão Muçulmano, cruzam-se de olhos nos olhos, judeus com árabes, cristãos-ortodoxos com judeus ortodoxos e por entre si mulheres tapadas, destapadas, ocidentais, muçulmanas, e uma imensidão de outros povos apenas de visita. Todos negoceiam entre si e, embora berrem, todos se confrontam sem nunca se hostilizarem. Eu mudei a lente à máquina e com uma 300mm fui tirando fotografias. Em 30 metros percorridos, devo ter tirado uma centena de fotografias e que agora não consigo aqui postar. Não é grave, pois não ficamos por aqui...

 

(continua...)

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