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República do Caústico

Republicanos do mundo, uni-vos!

21.12.10, João Maria Condeixa

Invocar o exército de Sangue Azul, as forças do bem e o D. Duarte para a batalha só porque se sentem desconfortáveis com a margem que levam na votação para Blog Revelação do Ano, parece-me desajustado. Convocar uma Santa Aliança para tentar aniquilar um castelo de uma pessoa só que luta contra esse império de 15 cabeças, parece-me desapropriado. Sentirem-se apertados pela concorrência deixa-me orgulhoso. E julgar que terei forças para até o último dia resistir a tantos intentos lembra-me a Aldeia dos Irredutíveis Gauleses e não podia ficar mais satisfeito.

 

Vem isto a propósito do Combate de Blogues e da votação para Blog Revelação do Ano. O Estado Sentido lançou uma cruzada monárquica contra a República  e desafiou todos os Monárquicos desta terra - incluindo o Nuno da Câmara Pereira, o Príncipe da Pérsia, o Marquês da Reboleira e o Visconde da Porcalhota - a votarem neles. Aliaram-se ao Corta-fitas nesta senda e toma, que lá vai disto! E eu lá sofri algumas "casualties" eleitorais e o primeiro lugar foi-se por um canudo...ou não:

 

Em ano de Centenário da República há que acreditar que a dita não está moribunda e que todos esses Republicanos - incluindo a própria da Sara Pallin, tal é o meu desespero - se irão erguer das campas, unir e votar nesta República. Esta é a minha derradeira tentativa: exorto republicanos da direita à esquerda, Maçons Livres e menos livres, progressistas e quejandos - adjectivo muito utilizado pelos Monárquicos, como se não os tivessem também - a demonstrar a força e influência que têm mundo fora. Este blogue não o merece, mas fica por conta do nosso ideal que é superior, meus caros.

 

PS - Tu não, Afonso Costa! Tu ficas de fora até porque já estás morto, ok?

Caia o país, salve-se o BPN

20.12.10, João Maria Condeixa

"Ah não, deixar cair o BPN é que não!" - diziam os defensores da teoria do "too big to fail" e do perigo de contágio. "Há que o salvar e o Estado deve nacionalizá-lo!" - argumentando que caso o Estado não assumisse esse cancro, milhões de euros iriam ter um efeito de cascata sobre a economia e a banca do país e que para além disso muitos empregos iriam desaparecer.

 

A coisa fez-se e o monstro foi aperfilhado. Até hoje ninguém sabe ao certo quanto já se gastou com ele. Ouvem-se umas tranches exurbitantes de quando em vez. Hoje fala-se em 500 milhões de euros a serem injectados para limpar parte da sua situação líquida actual, que é negativa em 2 mil milhões! Entretanto a CGD sairá da gestão e perfila-se que o BPN fique na prática como um segundo banco público até estar em condições de venda. Até lá ninguém sabe quanto mais será necessário injectar para que o monstro não caia de vez. Sabe-se apenas que esta injecção de hoje agravará o défice em 0,3%.

 

Hoje, depois de milhares de milhões gastos e a pesarem na carteira de todos nós, já ninguém os ouve falar em perigo de contágio do BPN, nem sequer na teoria do "too big to fail". Meteram a viola no saco e estão a rezar para que alguma alma caridosa pense da mesma forma quando for Portugal a anunciar que vai tombar!

Síndrome de Estocolmo

19.12.10, João Maria Condeixa

Bem ao estilo do Síndrome de Estocolmo, em que a vítima de rapto se torna fã do seu sequestrador, Portugal segue vítima e admirador do corporativismo que foi enraizando na sociedade e de que se fez refém.

 

A bola de neve que nasce na mais simples Junta de Freguesia ou Câmara - vezes sem conta sequestradas por corporativos grupos desportivos ou de outro género, apenas por serem fonte de votos e influência - e que se vai formando por esses campos fora atingindo o expoente máximo em qualquer governo que tenha dirigido o país - que sucumbem, uns às mãos de Sindicatos, outros de grupos económicos, de partidos, ou até, de antigos colegas de Coimbra - faz manifestamente mal ao país, mas este parece gostar, tal é a teimosia com que alimenta os corporativistas.

 

Vem isto a propósito da frente que Mariano Gago abriu ao atacar as ordens profissionais e a quem com elas é conivente. Fê-lo e bem - mesmo muito bem! - embora possa a estar, como diz Marinho Pinto, a servir uma das classes mais corporativas de Portugal, a Universitária. Mas o simples facto de as ter metido à bulha e ter denunciado o problema que se arrasta há anos, é já uma semi-conquista.

 

Se já é mau termos um Estado omnipresente, pior é criar essas réplicas em miniatura - não eleitas por ninguém, não mandatadas por nenhum - para nos meandros das coisas irem criando o mundo à sua medida. Quando acabam com elas ou ganham coragem para lhes esvaziar poderes?

Osteopata precisa-se

17.12.10, João Maria Condeixa

Freitas não se candidatou a Belém em 2001 porque o PSD não lhe garantiu apoio para 2005. Como sabia que a partir daí o lugar estaria preenchido por Cavaco Silva, pensou em alinhar mais à esquerda, talvez na esperança de se seguir a ele como candidato de mudança de ciclo. Vai daí embarcou, em 2005, na aventura de Ministro dos Negócios Estrangeiros com o PS, pela esquerda. "Seria ela a ter o Presidente da República seguinte!" - pensou.

Mas pelo caminho foi atraiçoado pela coluna. É natural. Ela não foi feita para tanta reviravolta.

Em 2016 terá 75 anos e Cavaco estará de saída. Terá o PS candidato para essa data? E será ele ainda presidenciável? Osteopata precisa-se...

Nobre e Lopes: dois conceitos errados.

15.12.10, João Maria Condeixa

Diz que ontem houve uma espécie de debate sobre as presidenciais. Nada de extraordinário e que não possa ser equiparado a uma discussão corriqueira numa qualquer praça de táxis deste país ou barbearia mais habituada a este tipo de assuntos - sim, porque as barbearias fazem-se pelo tipo de assuntos que tratam e não tanto pela forma como por lá se corta o pêlo -, mas ainda assim foi um debate, uma troca de palavras.

 

Mas também trocaram conceitos. Errados, mas trocaram:

 

O primeiro foi aquele velho conceito de que só quem viu pobreza, a poderá tratar. E quanto mais pobreza tiver visto, melhor será o seu desempenho. Os dois candidatos lá compararam as suas pilinhas mais paupérrimas, tendo-se chegado à conclusão que Fernando Nobre, por ter visto uma criança a correr atrás de uma galinha, não para a comer - veja-se a estupidez! - mas para lhe roubar o pouco alimento que ela levava no bico, era mais merecedor do cargo que o candidato do PCP - de seu nome, de seu nome...ai...aaahh...Francisco Lopes - que tudo o que tinha visto era um rapaz descalço e analfabeto filho de uma família que passava fome em Coimbra.

 

Meus senhores, se fôssemos abraçar esta vossa lógica politicamente correcta, enternecedora e romântica, teríamos já posto etíopes ou rapaziada do Chade a dirigir quase todos os países do mundo, mas, como sabem, tirando a contribuição para a construção de um vosso perfil mais humanista e sensível, essa solução não serve para mais nada! Por isso vejam lá se despem esses fatos com que vos vejo há 30 anos!

 

O segundo conceito, que se tem vindo a tornar cada vez mais banal ao ponto de qualquer dia a política ser a arte do vazio é o do "candidato do sistema". É um rótulo que já extrapolou a política, tendo chegado à bola, mas nem por isso deixa de ser uma tremenda falácia, embora colha cada vez mais simpatias.

Ser-se político, ser-se do "sistema", deveria ser um elogio e não uma arma de arremesso ou um telhado de vidro. Não se devia generalizar, com base no comportamento daqueles que da política retiram dividendos pessoais, abusam do poder ou que da política descartam quaisquer responsabilidades que não sejam louros, ao ponto de transformar o "ser-se político" numa pedra no currículo. Sob pena de um dia destes podermos apenas contar com pára-quedistas apanhados em qualquer esquina e empurrados, justamente por aqueles que se encontram perversamente nas máquinas partidárias e que importa combater.

Fernando Nobre tentou atirar com esta pedra a Chico Lopes. Chico Lopes tentou atirar-lhe com a pedra de volta. Mas nem um, nem outro, foi capaz de pensar que era ao expoente máximo da política que se estavam a candidatar e que, só por isso, lhe deviam algum respeito.

 

Faz, de facto, falta que alguém com tomates e mãos limpas - ah que imagem bonita! - possa dar um murro na mesa e afirmar com convicção que é político, tem um percurso reconhecido e que não está ali para papar grupos!

 

PS - relativamente ao resultado concordo com o Pedro Correia: ganhou Nobre.

FMI faz-me um filho!

14.12.10, João Maria Condeixa

Quinta-feira passada no BCP não pagaram as reformas a quem lá as foi tentar levantar. Segundo o banco, por falha informática. Passados dois dias não deixavam levantar açúcar nos hiper e supermercados sem que existisse um racionamento, graças, segundo os responsáveis, aos biocombustíveis - aqueles que são sempre responsabilizados em anos de subida, mas nunca lembrados como preciosos sorvedouros em anos de descida -.

 

A desculpa utilizada é irrelevante quando aquilo que lhe poderá estar subjacente é a falta de crédito que poderá ter obrigado uns a juntar "uns milhões" durante mais um dia, ou outros a não conseguirem responder à procura. Poderão ser desculpas de um país que parece estar preso por fios e prestes a receber a faixa de bancarrota a qualquer momento.

Deve faltar pouco para, em frente a lineares de supermercados vazios, se verem donas-de-casa estéricas envergando cartazes dizendo: "FMI faz-me um filho!"