Feliz 2011
(fotografia brasileira)
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(fotografia brasileira)
2010 foi o ano em que o mundo mudou a cada 3 dias. O ano em que um governo já de si inábil no cumprimento de promessas eleitorais - José Sócrates disse-me que prefere o termo "objectivos" - passou a navegar sem rumo, sem cumprir sequer o que dissera 48 horas antes. Um ano cavalgado por PEcs sucessivos: um em Março, que rapidamente se mostrou insuficiente; outro em Maio, que teve a colaboração do PSD e que se propunha mais adequado à realidade difícil que Sócrates teimava em não ver, e por fim um terceiro, já mais austero - o PEC III - cujos resultados estão ainda por conhecer e que, tal como noutros anos, serão habilmente escamoteados ou adiados: ou já não se lembram das sucessivas revisões do défice orçamental no final de 2009?
2010 terá sido o ano em que Portugal passou a ser teleguiado por Bruxelas. Ainda que ao retardador!
Se há quem tenha ficado credibilizada e beneficiada com o ano de 2010, foi, definitivamente, aquela sra. vendada carregada de balanças e espadas e que dá pelo nome de Justiça. Arrumou todos os assuntos que se andavam a arrastar há anos e de forma definitiva. Bem, excepto, talvez, no Caso Casa Pia e naquela trapalhada do acórdão, no episódio das escutas do Face Oculta que entretanto reapareceram depois da novela que foi a sua ordem de destruição, no Freeport e os processos disciplinares agora instaurados, nas acusações e pressões ao PGR e com todas as alarvidades da Procuradora Cândida Almeida pelo meio e no caso BPN que tardou em ser visto. Em tudo o resto foi extremamente expedita e eficiente, quase aposto!
O que explica que nenhum candidato a Presidente da República se tenha ainda pronunciado sobre o tema. Depois de 2010 a Justiça ficou bestial!
A aviação teve em 2010 um ano extraordinário. Depois de ter sido vítima do vulcão Eyjafjallajokull, que pôs o supercalifragilisticexpialidocious da Mary Poppins a um canto, sofreu outro revés natural com as neves de Natal. Não contentes com isso, aqui e ali houve ainda quem ajudasse à festa e promovesse uma greve, como aconteceu em Espanha com os controladores de Tráfego áereo a obrigarem o governo a declarar "Estado de Emergência".
Felizmente por cá a coisa foi desconvocada e não se agravou um ano já de si complicado, sobretudo quando para isso contamos já com, por exemplo, 171 chefes da TAP a ganhar uma média de 4,4 mil euros cada um.
Está na hora de fazer o balanço do ano. Numa versão modesta, pois isto não é uma estação de TV e não há cá orçamento para aqueles spots cheios de música emotiva, com imagens do outro mundo, onde por pouco não aparece o Ben Affleck com aquele ar de sujo penteado do Pearl Harbour a falar sobre as tragédias que viveu.
Aqui vai ser straight and clean. Com acontecimentos políticos e não só. Por áreas que me interessam e me agarram, normalmente, aos jornais.
Estão espalhados por todas as mesas de todos os cafés e pastelarias do país. Não servem para nada e não são dignos do nome que usam. Quando a eles recorremos em caso de aflição, já os sacamos daquelas caixas cúbicas em maior número do que seria de esperar e ainda assim não vemos o nosso problema resolvido. São tão bons que o seu poder absorvente podia ser equiparado a um bloco de esferovite. São tão eficientes a desengordurar-nos os dedos que até me espanta como a BP não os utilizou no derrame do México. Esses guardanapos, a que uns ousam chamar de papel, deviam ser abolidos.
Acabei de entornar um chá, como se pode ver e a "mólhada" que deles utilizei, não me serviu para nada! Não vale gozar..
A suspeita foi lançada quando o carácter de urgência invocado para sustentar o ajuste directo dos blindados deixou de fazer sentido e foi inclusive chutado para segundo plano pelo Ministro da Segurança Interna. Afinal não fazia mal que os novos blindados não estivessem na NATO. A Cimeira tinha terminado, nem sequer um vidro fora partido, mas tínhamos a Cova da Moura, a Zona J de Chelas e a Quinta da Marinha em Cascais como bairros problemáticos a justificar a sua aquisição. Ninguém questionou então, se afinal não existira tanta pressa, porque não se recorreu antes a um concurso público.
Mas hoje querem romper o contrato com base no atraso da entrega. Agora que se vislumbra essa hipótese descobre-se que nem a história dos bairros problemáticos era a valer. A Quinta da Marinha volta a ser um bairro de betinhos e a Cova da Moura um bairro controlável.
Mas e se para além da simples trapalhada e incompetência isto tiver servido alguém? É que com estas andanças os blindados desvalorizam. A cláusula "por motivos de força maior" iliba governo e empresa a quem adjudicaram os blindados de cumprir com a sua parte, e em "saldos" - condizendo com a época - podem ser vendidos mais barato para África. Algures no processo alguém absorve a desvalorização - e eu quase que aposto quem! - e no fim, alguém saiu por cima, tendo ficado com blindados mais baratos do que é costume. Eu sei que isto pode parecer uma teoria rebuscada de conspiração. Mas ao invocarem, sem necessidade, a excepção para o ajuste directo, deram espaço para este tipo de leituras. Provem-me o contrário, sff e tratem de explicar tudo isto bem explicadinho aos contribuintes.
Há uns tempos referi aqui que seria errado, de resto como em qualquer outro negócio entre duas partes, considerar o apetite da China pela dívida portuguesa, ou de outros países da Europa, como um acto vampiresco ou, por oposição, inocente e caridoso. Em nenhum destes dois pólos reside a resposta.
A China tem graves problemas internos e sabe que o seu crescimento é por demais insustentável, sobretudo se não tiver bem oleados e saudáveis os seus mercados de exportação. No dia em que os seus principais importadores lhe barrarem a porta, aqueles trabalhadores que hoje são explorados morrerão à fome numa assombrosa crise interna. Daí que hoje façam este gesto de compra das dívidas públicas para minimizarem sobre si quaisquer impactos negativos externos. Esta necessidade de abraçarem a Europa, alguns dos seus problemas e alguns dos seus costumes, chega ao ponto, de, como diz este cronista da Reuters, os tempos se terem invertido chegando os Chineses a desejarem Feliz Natal entre si e cá para fora, quando há uns anos seriam perseguidos por tal acto. A Europa está a entregar muito de si aos Chineses, mas a verdade é que a China nem por isso se consegue manter imutável, absorvendo muito do capitalismo e das democracias liberais europeias.
Mas não fiquemos por aqui. A abertura da China fomenta receios e cria atitudes proteccionistas antagónicas na Europa. Se eles por lá se abrem ao mundo, a Europa por cá vai descobrindo que tem todos os flancos abertos e que talvez esteja na hora de, pragmaticamente, se proteger um pouco mais. Tal como é aflorado aqui: Chineses estão a comprar tudo. Bruxelas diz que é perigoso.
No fundo, estão os dois a fazer percursos inversos. Chegará o mundo ao ponto de equilibrio, essa obsessão da economia?
Ontem fui levantar o astral - que é como quem diz acordar ao fim da tarde - para um café no Chiado a que costumo ir e que gradualmente se tem vindo a transformar em Low Cost. Não pelos preços, que esses continuam altos e puxadotes, mas pelo serviços que vai deixando de prestar.
O atendimento simpático, perdeu-se em parte. Fica mais em conta receberem-nos com 2 pedras na mão do que com um sorriso. A eficácia foi substituída por uma confusão nos pedidos digna de quem me ouviu com uma ressaca a ecoar em cada orelha e ainda a fazer tilt cerebral: trocaram as tostas, as bebidas. Trocaram-me inclusive a língua materna ao falar comigo em inglês. A mim, que não sou loiro, nem alto e que se barriga tivesse mais português não podia ser!
A casa de banho deixou de ter sabonente, papel, toalha e bufador de ar quente operacional. E no fim, depois de se terem atrasado com tantos pedidos trocados, ainda me vieram dizer um "vamos fechar!" estava eu de boca cheia da tosta de queijo da ilha.
Por este andar, tal como muitos outros espaços que começam bem, mas que teimam em não se cuidar, um destes dias perdem outro serviço: o de facturação. Pelo menos a mim.