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República do Caústico

À sombra da bananeira

17.11.10, João Maria Condeixa

"Quando as pessoas não recebem nada são mais activas a procurar trabalho. O tempo médio de permanência no desemprego das pessoas que não são subsidiadas (...) é inferior a um ano, enquanto nas pessoas que recebem é superior a dois. É um facto que cerca de 70% das pessoas que não arranjam trabalho durante os dois anos e tal em que receberam subsídio acabam por o conseguir menos de um ano depois de terem deixado de receber. E isso, no mínimo, é estranho."

 

Francisco Madelino, Presidente do IEFP ao Expresso deste fim-de-semana passado.

Espírito de Natal

16.11.10, João Maria Condeixa

A Popota está de regresso. O seu chulo continua sem aparecer. A pequenada quando passa pela Artilharia 1 acha que há por ali uma loja de brinquedos e que aquelas senhoras são da família da mascote do Modelo.

A NATO é ultra-liberal e ultra-não-sei-quê-mais

15.11.10, João Maria Condeixa

Por estes dias a rapaziada do Bloco de Esquerda deve andar num excitex total. Não é todos os dias que à cadeira de "Desobediência Civil", leccionada anualmente nos encontros bloquistas, se faz uma visita de estudo. E sexta-feira promete.

 

Já os consigo ver no autocarro a caminho da Expo com Fernando Rosas na cadeira da frente no papel de professor liberal que, querendo disfarçar os brancos e cachimbo ultrapassado, fala com bués 'tás a ver? e só fica contente quando os putos lhe cobiçam o intelecto e dizem que o Stôr é um bacano! Ao lado, o Director da escola, Francisco Louçã, que só atura estas parvoíces para poder manter o lugar que tanto lhe custou em alcançar, é considerado pelos alunos o "Guevara" dos cotas, enquanto que para os colegas é mais um prick dos grandes. Sonha um dia poder ser o candidato presidencial da esquerda e atingir o escalão máximo, para depois se reformar e escrever um livro sobre a revolução que nunca fez, nem quis fazer. Lá atrás, mesmo na última fila, o repetente da turma, o rufia de serviço, Daniel Oliveira, vai chamando as miúdas para verem o que é uma ganza que roubou ao irmão mais velho, na esperança de com elas se afiambrar a seguir.

 

O fumo lá dentro vai alto e o humor crescente. No chão rebolam cocktails molotov feitos de mijo de gato, qu'isto de meter gasolina pode ser perigoso. "Ainda uma merda daquelas explode e magoa alguém e isso a malta não quer, man!" O calor aperta qu'isto de trazer ao pescoço, ainda que no Inverno, um Keffiyeh - ou lá como é que se chama aquela cena que o cota Arafat usava - não é fácil. "Mas a Palestina deve ser defendida e temos que lá injectar dinheiro com a compra destas cenas. Só a minha mãe tem 3 comprados por mim que usa com a mala Chanel comprada por ela", diz o benjamim do grupo sem perceber qual dos dois produtos contribuíra mais para o malfadado capitalismo.

 

E é esta rapaziada que gosta de brincar aos revolucionários que também irá aparecer na Cimeira. Tudo porque a NATO é ultra-liberal. E pouco mais sobre Defesa - " que também serve para promover a paz" - ou sobre segurança - "cujos agentes deviam andar desarmados" - ouvimos das suas bocas.

 

PS - afinal os meninos cancelaram a revolução

Peças em queda

14.11.10, João Maria Condeixa

A pressão sobre aquela primeira peça de dominó era imensa. Há meses a fio que o PS aguentava um executivo trôpego, incompetente, desnorteado e descredibilizado sem que transpirasse uma gota de desunião. Sei bem que os empregos, cargos e favores, sobretudo em época de crise, são o cimento perfeito para que essa coesão permaneça, mas desta vez o PS estava a exceder-se a si próprio e a durar tempo de mais sem que uma voz crítica se destacasse.Como se nada à sua volta se passasse. Como se nem sequer Sócrates ou Teixeira dos Santos - pelo menos estes dois - estivessem a conduzir o país para o caos.

 

Mas esta semana o leilão e os juros da dívida pública acima dos 7% - aquela meta traçada por Teixeira dos Santos para, como com todas as outras, não respeitar - fizeram com que Vieira da Silva o viesse desautorizar. Ah, mas não é a primeira vez que o fazem! - dirão. É verdade. Mas foi a primeira vez que Teixeira dos Santos disse que atiraria a toalha ao chão, e que a partir desse número, recorreria ao FMI, rasgando o seu contrato de líder financeiro do país e que, por sua maior culpa, passaria essa responsabilidade para uma entidade terceira, externa, fazendo uma interregno à soberania de Portugal. E desautorizar um Ministro de Estado e das Finanças, quando este questiona as condições para se manter no lugar, varre por completo - interna e exteriormente - a solidez e credibilidade de um governo.

 

Ora isto foi o milimetro de mercúrio que faltava para a primeira peça de dominó cair. E aqueles socialistas que menos agarrados estão ao poder - por independência de carácter ou por estarem numa posição superior ao actual executivo - começam agora, paulatinamente, a soltar algumas discordâncias. Luís Amado, foi um dos primeiros. Outros somar-se-ão. Depois é esperar.

Twittador oferece-se

12.11.10, João Maria Condeixa

Eu twitto e blogo por muito menos. E por 20 mil euros ainda me disponho a lançar umas larachas no facebook.

A primeira podia ser esta: broncos do INPI pagaram uma alarvidade ao ISCTE para fazer aquilo que qualquer puto com a quarta classe e um Magalhães faria praticamente de borla.

 

Se não for muito incómodo, senhores do INPI, importam-se de contar como gastam o resto do dinheiro que vos cabe? É que talvez isso explique uma resposta que aguardo da vossa parte de há ano e meio para cá... 

O Senhor do Adeus

11.11.10, João Maria Condeixa

Não sei quantas vezes lhe falei sem saber quem ele era. Não sei quantas histórias ouvi sobre si. Não sei sequer se devo confiar na sua versão, de que outrora fora um homem muito rico e que por solidão, aquando da morte da mãe, resolveu ocupar o seu tempo dizendo adeus às pessoas sem nada pedir em troca. Sei que se tornou num ícone de Lisboa e estou certo que em breve, dele, nascerá uma lenda. É desta massa de pessoas estranhas que elas nascem.

 

Sei que no principio gozei com ele, quando era mais novo. Que lhe buzinei e lhe disse adeus em tom de troça adolescente. Mas também sei que a cada cabelo que fui perdendo, fui mudando - nem sei porquê - o tom em que lhe falava. Primeiro com timidez - já não tinha idade para gozar com pessoas estranhas -. Depois com respeito - tinha chegado à idade em que percebi que cada um é feliz como quer -. E por fim com amizade - tinha chegado o tempo em que me habituara a ele -.

 

Ao que parece, João Manuel Serra, o Senhor do Adeus, morreu ontem. E levou com ele alguma da mística de Lisboa.

 

PS - Soube agora que ia ao cinema todos os domingos e que tinha um blogue onde desejou Feliz Natal a todos, "muito embora fosse cedo".