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República do Caústico

Das greves gerais, da direita e da esquerda

23.11.10, João Maria Condeixa

Nem por um segundo, o PS, caso estivesse na oposição e pudesse fragilizar o governo, hesitaria em ir para a rua juntar-se à CGTP ainda que as reivindicações e os cenários fossem os mesmíssimos que agora atravessa. Não haveria socialista que não tivesse já fomentado a onda necessária para que este governo caísse, tal como vi acontecer - e sem isentar ninguém de culpas - com o governo de Santana Lopes.

 

"Ai, se isto fosse no tempo do Santana já teria caído o Carmo e a Trindade!" - ouve-se a direita dizer e com razão. O PS não tem a mesma tolerância à dor, o mesmo poder de encaixe, não se importa se está a atirar pedras tendo telhados de vidro e - está-lhe na massa do sangue - é capaz de pôr a mão na anca, bater o pé e descambar meio Portugal caso isso lhe perspective poder, ainda que concorde com parte daquilo em que está a bater.

 

A direita não. Guarda-se naquele cavalheirismo e conduta de família conservadora - que no filme do facebook valeu àqueles meninos de Harvard um valente barrete enfiado - e é incapaz de dar um murro na mesa, apesar de ser sobejamente reconhecido que tem autoridade e razões para isso. Mas também este comportamento lhe está na massa do sangue ou não fosse a direita considerada reaccionária, ou seja que reage, o que significa que para agir já alguém teve de fazer merda primeiro. E a sua ponderação servirá para equilibrar o feito.

 

Só por toda esta antropologia política é que vai para a rua quem vai e fica em casa quem fica. Sendo que nem uns, nem outros estão no ponto perfeito para que isto ande para a frente.

O mal vive para lá da lei

22.11.10, João Maria Condeixa

O problema não está no ajuste directo. O problema não está na lei que o permite em caso de interesse público. O problema não está nestes blindados atrasados que irão servir para pôrra nenhuma e que mesmo que tivessem chegado a tempo continuariam a não servir para nada. O problema está em não se responsabilizar ninguém quando à posteriori não se verificam as razões evocadas para a excepção.

É que enquanto assim for havemos de comprar muitos outros blindados atrasados. E na mesma por ajuste directo.

O mundo mudou em 3 dias

22.11.10, João Maria Condeixa

Este fim-de-semana foi pródigo em mudanças:a Rússia e a NATO parecem ter-se entendido quanto a uma parceria futura no combate ao terrorismo - lá se foi definitivamente o pacto de Varsóvia, meu caro Bernardino - e o Papa Bento XVI veio admitir o uso de preservativo dando um importante passo no sentido de uma Igreja doutrinal, mas ciente da realidade e capaz de acompanhar os tempos.

Agora sim, que o mundo mudou em 3 dias, Sócrates não aparece a dizê-lo?

Manifs com sentido....

21.11.10, João Maria Condeixa

 

Fui ontem à manif do PCP Anti-NATO na esperança de ganhar um World Press Photo Award baseado naquela ideia de Robert Capa "if a picture is not good enough, you weren't close enough", o que demonstra muito da minha qualidade enquanto fotógrafo que vive à espera que lhe apareça um morteiro à frente da objectiva, já que não tem técnica para mais. Mas não tive essa sorte.

 

Portugal não é capaz de atrair investimento estrangeiro, nem arruaceiros de outras paragens - simplesmente não há quem nos ligue! - pelo que me vi obrigado a fotografar a escassa "prata da casa": quase vinte e dois anarquistas e meio que não se pouparam em trajes e pinturas, mas que, alérgicos a bastonadas na espinha, jamais tentaram a "desobediência civil" que treinam nus diariamente frente ao espelho à saída do banho. Uns meninos, portanto, que hipotecaram o meu prémio.

 

E o pior é que para além deles não havia mais ninguém. Tirando aquela malta de esquerda que parecendo os marchantes de Santo António em dia de ensaio geral, se manifestavam contra tudo e contra todos usando a NATO como artificio. Havia-os para todos os gostos: manifestantes contra touradas que a NATO patrocina, seres estéricos que, avenida acima, avenida abaixo, culpabilizavam a NATO pela cauda cor-de-rosa que lhes saía das calças, mulheres contra o tráfico de outras mulheres, que como é sabido, mundialmente, é culpa directa da NATO. E sindicatos, muitos sindicatos da CGTP, que apelavam à greve geral, presumo eu, contra a NATO, essa instituição capitalista de má índole e mais-não-sei-o-quê que a constituição não permite.

 

E todos eles gritavam palavras de ordem com imenso sentido. Provas? Deixo-vos a fotografia lá em cima. Todos nós sabemos que se não fosse pela guerra, o Sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, tinha todas as condições para o Turismo. Valha-nos sindicatos destes que não dormem um segundo que seja e que lutam tanto por nós! Um dia Albufeira viverá em paz, reerguer-se-á dos escombros e os portugueses poderão vendê-la aos ingleses.

 

Depois de ontem fiquei com a certeza que há figurantes profissionais que vão ao programa do Goucha e depois há estes.