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República do Caústico

Estou com António Costa e Sá Fernandes

29.10.10, João Maria Condeixa

É perfeitamente normal o que está a acontecer em Lisboa. Tantos dias seguidos de chuvadas intensas, maremotos do Tejo, ventos ciclónicos, inúmeros sem abrigo a fazer as suas necessidades nas ruas, milhares de desastres de camiões da Água do Luso e inestimáveis gastos supérfluos de todos os Lisboetas no banho da manhã só podia dar nisto. A CML não deve ter culpa nenhuma...

O medo do FMI

28.10.10, João Maria Condeixa

Está meio mundo apavorado com a vinda do FMI, não pela austeridade das medidas que ele possa trazer - essas, de uma maneira ou de outra terão de ser implementadas -, não pela perda de autonomia que isso possa significar - já hoje todas as decisões tomadas são reflexo de "conselhos" externos -, não pela perda de influência que isso acarrete, nem pela desconfiança que criará nos mercados - acredito que mais rapidamente reconquistariamos essa confiança com o FMI, do que com este impasse actual -, nem pela humilhação que a sua vinda possa significar.

 

O meio mundo está apavorado com o FMI por saber que caso ele venha, passarão a ser marionetas suspensas por fios sem margem de manobra para esticar o cordel na ânsia de ir buscar mais qualquer coisa para si e para os seus. É isso que os assusta: obedecer, sem poder tirar proveitos.

Portugal: uma novela mexicana

27.10.10, João Maria Condeixa

 

Se antes de partir de férias já levava a ideia que o país cada vez mais se assemelhava a uma novela mexicana de baixo orçamento - até neste ponto a ideia bate certo - então agora que voltei não me restam dúvidas nenhumas. Desde o primeiro episódio - pouco interessa quantos se perdem pelo caminho - que se conhece o desfecho final, mas ainda assim insiste-se em acompanhar o "evoluir" da trama. O vilão e o herói sabemos quem são desde o momento em que o primeiro atraiçoou o coração da doce e frágil beldade - as coisas que eu chamo ao eleitorado - e o outro, ainda que tropegamente, ofereceu o seu ombro para lá irem chorar.

 

E como nas más novelas - há boas? - o bom da fita, pouco ou nada faz para derrotar o mau, pois isso seria manchar a sua conduta. E se há coisa que o bom da fita não pode fazer, é perder aquele arzinho angelical, calmo e pacífico, de quem sabe que no fim tudo será seu. Até esse momento, será o estupor do vilão que, tal como o Coyote, tudo fará para se auto-infligir e enterrar. E nisso, Sócrates tem mostrado valor.

 

Só que aqui, até ao momento em que o vilão regressa uma e outra vez do coma profundo até por fim lhe chegar a morte final, quem também vai sofrendo com as amarguras das suas decisões é este país. E se o herói não entende isso,  também não merece ficar com a beldade do enredo, pelo que se afigura que ela vá parar às mãos de António Borges. Que é aquela personagem da qual só se ouve a voz e se vê a mão, mas à qual os peões poderão todos vir a ter de responder.

 

PS- estar de volta da viagem ao Médio-Oriente significa que tentarei, nos próximos dias, deixar aqui o que por lá encontrei a cada recanto. Para já adianto só que ir sozinho para aqueles lados não é tão arriscado quanto pintam! Ainda que se apanhem uns quantos imprevistos pela frente. Até já.

Relatos breves (7)

23.10.10, João Maria Condeixa

Existem dois Sabbaths: o de Jerusalem, vivido numa vertente bastante espiritual e o de Tel Aviv, muito mais liberal, mas tremendamente denunciador da importancia que a familia constitui neste pais. Num ou noutro local e' impressionante a forca que este periodo tem.

O domingo catolico dura pouco mais de uma hora, que e' o tempo da missa e de dois dedos de conversa em frente a Igreja. O Sabbath cavalga a propria religiao, dura um dia e meio e propaga-se por tudo aquilo que e' rua, areal ou monumento a visitar, com um unico proposito: reuniao.

Relatos breves (6)

22.10.10, João Maria Condeixa

Voltei a casa. Pode parecer estranho e ate' tendencioso, se for lido do ponto de vista politico, mas a verdade e' que voltar a Israel depois de incursoes 'as "arabias" traz-nos essa sensacao de voltar a casa.

 

A razao e' simples e ja' aqui fui adiantando: os europeus vao tendo, cada vez mais, tudo programado, definido, arrumado e compartimentado. Mas o que e' uma mais valia - desde que nao levado ao excesso, claro - pode tornar-se num pesadelo, quando nos e' tirado. Se 'a nossa volta, numa entropia esquizofrenica, nos tirarem o conforto da cama, o sossego do sono, a estabilidade alimentar, a frescura da agua, a rede do telemovel, a musica do ipod e nos derem po', parca comida, musica popular arabe aos berros, pimentos ao pequeno almoco e mesquitas pelos ouvidos dentro, inclusive, as 5h da manha, e' natural que Israel saiba a Europa e nos lembre casa. Ja voltei. Ufa...depois conto melhor o que na Jordania se passou. Hoje so' quero dormir.

Relatos breves (5)

21.10.10, João Maria Condeixa

Embora ainda volte a Israel, saltei a fronteira para a Jordania. Barata, acolhedora, guarda em Petra o sitio mais espectacular que alguma vez vi. Fenomenal! Quando eu morrer, quero que me ponham neste dito cemiterio, ainda que na gruta mais humilde! A proposito, pouco faltou para cumprir este meu desejo. Conselho: nunca subir as 13h ao mosteiro (2 horas a subir escadas gravadas na pedra) sem ter almocado e com pouca agua na garrafa. Diz que os heat strokes nos fazem ver a vida a andar para tras e a encostar 'a boxe umas quantas horas.

 

PS: se os beduinos chegassem a Hollywood roubavam o papel de Jack Sparrow a Johnny Depp num abrir e fechar de olhos. Eu depois mostro-vos aquele que me alugou o camelo dele para verem se eu nao tenho razao.

 

Relatos breves (4)

20.10.10, João Maria Condeixa

No's europeus estamos a perder todos os anticorpos para o imprevisto e o que sai fora do standard. Perguntem aos meus intestinos que tem refilado contra a ingestao da falafel ao pequeno almoco, se assim nao e'. Mas nao e' so' nos aspectos que a ASAE controla que nos sinto demasiado protegidos. Camaras houvesse para gravar a minha cara no meio do deserto, retido dentro do carro, enquanto o meu taxista agredia um policia por lhe ter passado uma multa e iam perceber do que falo. A noite caia e a minha pessoa mingava a cada berro arabe que entre si largavam. Mais ninguem para alem de no's ali estava e a mim nem a porcaria da marca do carro "Samsung" me era familiar. Claro que o unico que nao se encontrava minimamente protegido para este tipo de situacoes era este vosso europeu de meia-tigela!

 

Mas ja esta em Petra, inteiro, e a ouvir a incansavel chamada das mesquitas...

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