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República do Caústico

Profissões suspeitas

02.09.10, João Maria Condeixa

O Dentista é um ser demente. Sim, vim de um há bocado e ainda estou revoltado estupefacto com aquele ser de bata branca e máscara à japonês que consegue ver beleza num escancarar de boca por nela descobrir, por técnicas que permitiriam salvar 33 homens no Chile, o mal de umas dores insignificantes que em determinado siso se resolveram instalar. Quem vê beleza nisto, é demente, insano, louco!

 

Ainda bem que os há, não me entendam mal, mas a verdade é que só um ser macabro consegue imaginar uma vida bela dedicada ao mundo das cáries e tortuosidades dentárias. Ninguém no seu perfeito juízo sonha em inalar para o resto da vida o mau hálito da velha que lhe abre a boca por dá cá aquela palha, ou em ver a esplendurosidade de uma dentição putrefacta como os campos minados de Angola e ficar contente por pelo menos não ter larvas. E menos ainda poderá alguém, na sua perfeita sanidade, ficar feliz por ver contorcer na sua cadeira ergonómica um corpo de alguém que, ainda que vivo, não consegue gritar por se ter tornado num depósito de brocas, perfuradoras e martelos pneumáticos, e a quem lhe resta apenas gemer para dentro e cravar as unhas roídas na enfermeira que sadicamente lhe vai sorrindo lá do alto. 

 

Isto é um exagero, pois claro. Mas há profissões que me deixam assim: ávido por perceber a beleza que nelas vê quem as segue.

De volta ao inferno

01.09.10, João Maria Condeixa

Agosto teve uma 2ª circular arejada, como sempre. Livre de mulheres de madeixas que já de si não sabendo guiar, ainda se preocupam em desembaraçar o cabelo fio a fio pela manhã. Livre de pessoas azelhas que só sabem mudar de faixa quando estão paradas e perpendiculares ao rumo que pretendem seguir, em vez de irem lentamente e em diagonal entrando para onde querem. Livre de seres adormecidos de banho mal tomado e ramelas nos olhos que vão deixando os carros da frente andar, andar e andar até terem uma distância de segurança de quase 50 metros. Livre de pessoas que de olhos no horizonte repetem para si mesmas "não o estou a ver! não o estou a ver!" e não deixam ninguém entrar na sua faixa, não vá esse milésimo de segundo comprometer-lhes a hora de entrada no escritório. Livre de beijinhos matinais entre carroçarias automóvel que bloqueiam por completo a maior artéria de Lisboa.

 

Há um mês que não sofria com o trânsito e o meu fígado estava quase curado. Não podiam ter ficado junto com os vossos carros pelos algarves?

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