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República do Caústico

O dia em que o skate é bem visto

22.09.10, João Maria Condeixa

O Dia Mundial sem carros, não devia ter este nome. A iniciativa, que até teve sucesso nos primeiros dois anos - ou não fosse o tuga fã de tudo o que lhe permita construir a "mundialidade", seja por via da maior feijoada do mundo, do maior bolo-rei da Europa, da exportação de galos de Barcelos para a Islândia, ou da voz eloquente do Poeta Alegre candidato a Belém - depressa se tornou numa celebração imposta que já devia ter sido rebaptizada para dia-mundial-sem-carros-nas-zonas cortadas-ao-trânsito-e-de-engarrafamento-total-em-todas-as outras! É que nestes diasé insuportável andar de carro. Pelo menos em Lisboa. Ao ponto de nos lembrarmos que "ah, é o Dia Mundial sem carros. Merda!".

 

Dias destes deviam existir para nos sensibilizarem quanto ao uso de transportes públicos, mas é, justamente, nestes dias que, por falta de preparação da rede de transportes, o cidadão que habitualmente não recorre à razoável rede que temos no resto do ano apanha o susto da vida dele: o metro está mais atafulhado do que é costume, os autocarros parecem mais pequenos, os sovacos por lavar são em maior número, a expressão "sardinha enlatada" é usada na perfeição porque as senhoras que habitualmente trazem consigo as banhas todas de casa, parecem deixar a cinta da bisavó pendurada no estendal.

 

Daí que, a cada ano que passa, o Dia Mundial sem carros seja mais um inferno que o momento verde que pretendem imprimir. E pouco falta para que seja contestado à base de buzinadelas e rátéres!

 

PS - gosto especialmente de ver chamar "veículos ecológicos" aos skates e bicicletas que costumam malfadar. 

Ser chefe compensa

21.09.10, João Maria Condeixa

"Chefe" sempre me foi uma palavra estranha  e a proliferação do seu uso por taxistas e empregados de mesa quando deles se quer alguma coisa, nunca entendi.

 

Sempre achei que nunca definia nada sobre a pessoa a quem o cargo diz respeito a não ser que estava, hierarquicamente, acima de alguém. Nada diz sobre as suas responsabilidades, nem se desempenha bem as suas funções que tão pouco se percebem pelo epíteto quais são. Mas pelos vistos ganham bem.

 

Na TAP, uma das muitas empresas públicas, ganham, em média, 4,4 mil euros. E como são só 171 chefes - só na TAP. Há mais não sei quantas empresas públicas, em média, cada uma com outros 60 - isso representa por mês na dita empresa 752,4 mil euros pagos a pessoas cuja função, pelo simples nome de "chefe", não nos é dada a conhecer. Deduzo que não sejam nem taxistas, nem pasteleiros, nem cozinheiros ou empregados de mesa. Mas, pôrra, ganham bem! Gostava de saber o que por lá fazem tantos...

 

PS - fiquei a saber por aqui, que na CP e REFER também não se está mal e que a companhia é igualmente grande. Estas duas empresas, só em "chefes" totalizam, por mês: mais de um milhão e quinhentos mil euros!

Quem sabe, sabe. E o Tomás é que sabe..(2)

20.09.10, João Maria Condeixa

Em 2006 temi que pudessem acontecer passagens administrativas graças às Novas Oportunidades e ao "maiores de 23". Escrevi-o, ainda no meu primeiro blogue e, via Juventude Popular, tive oportunidade de alertar para esse facto. Hoje vejo que tinha razão e que o Tomás é que sabe! Mas filho meu vai queimar pestanas. Nem que tenha de ir para fora!

Quem sabe, sabe. E o Tomás é que sabe..

19.09.10, João Maria Condeixa

Lembro-me de estudar para os exames de 12º como se não houvesse amanhã. Lembro-me de ter tido uma ou outra crise de sonambulismo cómico, em resultado da ansiedade vivida. Lembro-me de me matar a várias disciplinas no meio de um calor que apertava - até isso este ano mudou -. Lembro-me de entrar para o exame, fumar dois cigarros com um grupo de amigos depois da prova - o cigarro do after sempre foi bom! - e depois ir a correr para casa preparar o próximo que seria daí por 48 horas.

 

Hoje, no pós-socialismo-socrático tudo isso desapareceu. O homem conseguiu acabar com o inferno de gerações: faz-se um exame; não se fuma  tanto porque não há stress, nem provas no dia seguinte. Começa-se a estudar aos 23 para acabar antes dos 24 - o que poupa imenso e permite que até lá as famílias possam ter os seus júniores a trabalhar e a contribuir para o orçamento lá de casa -. E se formos bons a inglês - que não técnico, pois claro! - entramos na faculdade com uma média de 20 valores.

 

Quem sabe, sabe. E o Tomás sabe!

 

Uns génios que nos chamam idiotas e nos fazem felizes

18.09.10, João Maria Condeixa

 

Perceber que a humanidade peca ao não usar a massa cinzenta para controlar essa permanente insatisfação não é para todos. Perceber isso e ainda tirar daí proveitos é mesmo só para os marketeers.

 

São eles que nos chamam estúpidos ao dizerem, ano após ano, que determinado produto está melhor, ainda mais crocante, mais saboroso, estaladiço ou "agora com mais chocolate!". São eles que nos chamam parvos ao dizerem isso em cada nova embalagem que sai ,sem nos lançarem, sequer uma vez, naquela dúvida: " mas se isto agora ainda tem mais chocolate do que tinha o ano passado - que já era mais que no anterior e o antes desse - então se calhar já não é bem, bem, o mesmo produto...".

Mas não. Não só vamos pelas mentes brilhantes deles, como assumimos que aquilo tem de facto mais qualquer coisa - ainda que não tenham posto lá mais nada - e nos damos por felizes ao constatar que tem exactamente, sem tirar nem pôr, - é impressionante! - o mesmo sabor de antigamente, a textura de sempre e aquele crocante a que nos habituaram. Entenderem-nos a este ponto é de génio de marketeer e isso deixa-nos felizes!

 

E tudo isto vem do simples facto de sermos mais insatisfeitos que inteligentes.

Sabe o que é isto?

17.09.10, João Maria Condeixa

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É o traçado do futuro TGV, a via que nos "ligará à Europa", que irá ser feita em tempos de franca crise e que em nenhum dos extremos tem Lisboa ou Madrid. É um segmento de recta no meio de uma folha branca. A road to nowhere.

 

PS - consórcios espantados com a quebra de promessas por parte do governo. LOL, só pode!

Um instituto com 48 irmãos (4)

17.09.10, João Maria Condeixa

Continuando a senda de encontrar os limites ao Estado - pelo menos o central. Não sou nenhum Livingstone para me meter em aventuras maiores - achei que era altura de ir até ao site do Ministério cuja detentora da pasta diagnosticou esta semana o colapso do Estado Social. O Ministério da Cultura acrescenta mais 25 organismos tutelados, mas desta vez e à parte - pelos menos descriminam e apresentam-nas - as fundações que apoiam e que são 12.

 

E numa delas até acabei por encontrar lá um nosso velho conhecido como presidente do Conselho de Administração: Manuel Pinho. Conhecem? Pois é, o senhor dos "pauzinhos" está pela fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva a divertir quem por lá passa e a suceder a António Vitorino. E com isto, nem me aventurei a ver as outras. Preferi voltar às somas.

 

Assim, volvidos apenas 4 Ministérios, vamos em 123 empresas/organismos públicos directos e 12 fundações conhecidas. Ainda há quem pergunte onde se pode cortar na despesa como se fosse algo extraordinariamente difícil?

 

Um empréstimo para papel higiénico

16.09.10, João Maria Condeixa

O Estado não contrai empréstimo para comprar casa nova, arrancar com um novo negócio ou apostar numa pós-graduação que lhe permita melhorar a vida. O Estado vai ao banco pedir empréstimo para pagar papel higiénico. Mais precisamente 2,5 milhões de euros/hora em papel higiénico, que é como quem diz, despesas correntes. O que representa um endividamento por português, médio, de 6 euros por dia ou 180 euros por mês, ou seja 20% do salário médio nacional (894€).