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República do Caústico

A minha praia mudou

13.07.10, João Maria Condeixa
Fim de tarde de domingo na Costa de Caparica e a uns metros de mim, junto ao mar, gentes de vestes estranhas, sobretudo para aquele areal, divertiam-se a trocar uma bola e a molhar as pernas. Esqueçam os fatos de banho, as bermudas, as sungas ou as tangas brasileiras. A senhora que estava à beira-mar inspirara-se no modelo que está na foto.
Aquilo que me parece estranho este ano, pode não sê-lo no futuro. Portugal está, felizmente, mais aberto. Portugal está, felizmente, mais atraente para o exterior e os tempos em que recebíamos apenas emigrantes das ex-colónias finaram. Gradualmente fomos recebendo brasileiros, quando inicialmente só recebíamos africanos. Depois começámos a atrair chineses e povos de Leste. E hoje vamos vendo hindus, muçulmanos e tantas outras culturas.
E se o fio dental brasileiro não nos meteu medo, não deverá, por muito que evoquem o 11 de Setembro, ser o lenço sobre a cabeça ou as vestes longas a fazê-lo. São costumes e culturas como as dos outros povos que por cá vamos recebendo. São costumes, ainda que nos pareçam estranhos, iguais ao garrafão de vinho tinto e aos fios de ouro sobre a pele pançuda e pilosa dos portugueses que outrora emigraram.
Encontrar um jornal em círilico no metro, um turbante mal-cheiroso, ou uma burka andante no chiado, ainda que olhe e me cause espanto, deixa-me feliz. Começamos a viver numa metrópole.
Já termos condições para os receber, sejam eles quem forem, essa é outra história e outro post.

Um grão numa engrenagem já de si desorientada

12.07.10, João Maria Condeixa

Digam lá se não tem piada ver quem durante o fim-de-semana acusou terceiros de "falta de liderança", de "ineficácia" e da responsabilidade por "constragimentos vários que dificultaram a acção da Direcção Geral das Artes" vir, na segunda-feira seguinte garantir que os cortes na Cultura, que há uma semana atrás tinha anunciado, e que depois acabou por recuar, de facto não irão é existir?

Digam lá se estas voltas e reviravoltas do governo socialista não são atitude dignas de um líder que prima pela eficácia, que sabe o que quer, e de quem tem uma acção fluída e não pode compactuar com empecilhos - so they called him, I trully ignore if he is one - como o Jorge Barreto Xavier?

Sócrates faz escola

12.07.10, João Maria Condeixa

Nunca pensei dizê-lo, mas está mais que provado que Sócrates, o nosso, - se fosse o outro não seria novidade - conseguiu criar uma escola de pensamento. Por estranho que pareça, há quem lhe siga as pisadas e transforme - diria que por franca maldade, pura ingenuidade ou cegueira total - o pior dos males no maior dos remédios:

 

Quem anda por Lisboa dificilmente não repara nos outdoors dos Centro Comercial Colombo que orgulhosamente diz ser o único onde "se inauguram 30 novas lojas por ano". Ora como não vemos crescer o monstro - atenção que as novas torres são escritórios - e os parques de estacionamento ainda não foram convertidos em galerias comerciais, só lhes resta uma saída para sustentar tamanha parangona. Que a cada loja que abre, uma antes se fechou. Por falência, por ter descoberto alternativas mais baratas, por mudança de ramo, não interessa. A verdade é que só assim um local estanque pode inaugurar novas lojas. E isso não me parece motivo de orgulho.

 

A não ser que o spin-doctor seja o mesmo que o de Sócrates e tente tomar meio mundo por parvo. Mas se para o outro o consegue, porque não há-de o conseguir para o ex-maior centro comercial da Península Ibérica?

O sorriso de Zapatero

11.07.10, João Maria Condeixa

Apaguem o nojo que sentem pela brilhantina andaluz, deixem de gozar com o sotaque galego, esqueçam a inveja que têm pela catalunha e enterrem o ódio que sentem desde que Espanha nos eliminou no Mundial. Dêem o braço a torcer e reconheçam que o país vizinho é, por direito próprio e valorosamente, campeão do Mundo

 

Espanha fará agora aquilo que Sócrates sonhou com este Mundial: esquecerá o défice acima dos 10%, festejará como se não tivesse o desemprego nos 20% e gastará como se a dívida pública não estivesse nos 70 e tal por cento. Tudo o que o nosso Primeiro-Ministro sonhou em ter, mas que Queiroz lhe cortou.

 

Por não saber como, um socialista sonha sempre em poder adiar, mesmo que por uns meses, a recuperação económica. Sócrates pode-se ter vingado com uma golden share mal metida, mas quem sorri é Zapatero!

O Sol é o Sol? Aquele das escutas??

09.07.10, João Maria Condeixa

 

O jornal Sol que hoje cheio de pudor não divulga a conversa tida entre Carlos Queiroz e um jornalista da casa, é o mesmo jornal Sol que há uns tempos vendeu, que nem pães com chouriço, durante semanas a fio, umas escutas que entretanto vieram a ser destruidas por serem consideradas ilegais e que por isso não serviram de suporte ao caso Face Oculta e que para além disso permitiram a Rui Pedro Soares arrecadar mais uns quantos milhões - o puto é um prodígio a sacar milhões, diga-se! - para juntar aos que já tinha em casa? É o mesmo jornal?

 

Irra que o Queiroz tem poder!

Farto de recuos e contradições

08.07.10, João Maria Condeixa

Não há semana em que o Governo não recue e que Sócrates não se contradiga. Em campanha eleitoral penitenciava-se de não ter apostado mais em Cultura e, tal foi a genuinidade com que bateu no peito, que quase todos acreditaram que se iria redimir desse pecado. Hoje recua, mas só depois de ter apresentado os cortes - que pelos vistos vão ser menores - justamente nessa área.

Claro que vai dizer que "o mundo mudou nesta última semana!" para justificar o corte e "que estão a fazer um esforço!" para fundamentar o recuo, mas em nada estas desculpas apagam a primeira frase factual deste post. E eu ia jurar que o país já está farto disso...

 

Em equipa que ganha, não se mexe

08.07.10, João Maria Condeixa

Para quem não acompanhou o processo, fica a ideia de que tudo corria bem até ao dia em que um invejoso resolveu meter-se ao barulho e causar alguma entropia. Ora, Portugal, que é um país de características pouco dadas à celeridade e eficiência, vendo-se com uma embrulhada destas por resolver, e após uns meses de acesa polémica, de bitaites bairristas desnecessários, de "vai pra cima! Não, vai para baixo!" e outras peripécias de circo, fez o que sabe melhor: deitou tudo por terra! Que é precisamente o que não se pretende numa prova de aviões.