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República do Caústico

Mortos pela ASAE no areal

21.07.10, João Maria Condeixa

Não foi só o "É frutóóóchocolate!" que morreu. Muitos outros pregões desapareceram. Uns vítimas do tempo e da concorrência, outros vítimas da ASAE que me quer salvar a vida, pôr menos hipertenso, deixar-me mais esbelto e escultural - como se isso fosse possível num Adónis como eu! - , mas que mergulha na clandestinidade centenas de vendedores ambulantes que nos tiram a sede e matam a fome.

 

É vê-los, de telemóvel em riste, comunicando uns com os outros para escapar à ofensiva higienofascista, agachando-se na areia como se estivessem na Normandia, rebolando por entre as dunas e gritando em murmúrio o que têm para vender. Esqueçam os pregões de peito cheio, de voz e esforço quase lírico. A ASAE matou-os a todos:

 

- É frutóóóóchocolat(e)! - favor notar que o último "E" é mudo. Killed In Action pela ASAE.

- Olhó Nogá! 3, cem, 3 cem! - este morreu com o escudo, mas a ASAE não permitiu que o seu sucessor vingasse.

- Olááááá fresquinho!!! - um símbolo morto. Um case study de marketing desfeito pela ASAE.

- Olhá a bolinha de Berlimm!!! - agora só sem creme, com saco de plástico (que não polui nada, pois claro!) e mesmo assim são apreendidas às centenas.

- Olhá a "linguéé" da Sogra!! - se fosse a humana, ainda se festejava a sua extinção, agora aquele canudo amolecido pelo calor, sal e areia - como a batata frita da praia, que ganha sabor único - faz cá muita falta!

 

É assim o mundo pós-higiénico. Mudo e sem cheta!

A CRP do PSD

21.07.10, João Maria Condeixa

 

 

 

Se há lei que os portugueses mal conhecem é a Constituição. É lhes como uma tia distante de quem já ouviram histórias, mas em quem nunca puseram os olhos. Mas sabem que a Constituição - mais por propaganda enviesada que outra coisa - lhes guarda direitos e regalias (sic) que nunca poderão hipotecar. Como se essa tia, que nunca viram, fosse rica e estivesse para lhes deixar tudo em testamento.

 

Ora, acontece que a tia está mesmo a morrer. A diferença é que não é rica. E não o é, como a maioria dos portugueses, justamente pelo espírito que está na lei fundamental, como em tantos outros corporativismos ultrapassados e anacrónicos que prenderam o país numa gaiola socialista e socialistatizante.

 

E Pedro Passos Coelho não vai salvar o país com esta sua receita. Aliás, o que PPC está a demonstrar é que a única forma que tem de se distanciar de José Sócrates é por via de um subterfúgio como este, pois de resto são, por demais semelhantes. Demasiado parecidos até no que deste projecto temo que resulte: quase nada. Pois, como já no primeiro dia ficou patente, afinal aquilo que deixaram transparecer  sobre os poderes do Presidente da República não é bem assim, mas assado, e de recuo em recuo pouco ou nada do que hoje é lançado irá vingar.

 

É pena. Portugal precisa mesmo de ver emendado, mais até do que a CRP, um espírito que lá está lavrado. Mas falemos sobre o que lá pretendem colocar:

 

(continua...)

Prince, o instrutor de step que canta e toca guitarra

19.07.10, João Maria Condeixa

 

Não me aguentei até ao fim do concerto do Prince. No dia seguinte seria dia de trabalho, a viagem prometia ser longa e o trânsito poderia vir a agravar a coisa, pelo que saí à francesa, por entre uma tempestade de areia, assim que acabou o bem falsetado "Purple Rain". Para trás deixava "o artista, outrora conhecido como Prince" a animar uma multidão de gente como se fosse um mutante entre um instrutor de step e um assistente de realização.

 

Prince é, como ele próprio se intitula, mais um artista que um cantor. Não por falta de voz, mas por excesso de confraternização com o público. Fosse ele português e teria passado noite a gritar: "Amarante, quero ouvir!"; "Bombarral, quero ver esses braços no ar!" Como é made in USA grita "ooohhhh, Portugal!" durante 28 minutos e "now, jump!" e "now, clap your hands" durante outra meia hora, por entre, esses sim, magníficos acordes de guitarra. Foi, como digo, uma aula de aeróbica interrompida aqui e ali por um dos seus êxitos e por Ana Moura que, com sorte, será lançada lá fora pelo artista que gosta de atirar pessoas para o estrelato.

 

Vim-me embora a pensar como será possível existir quem, baseado fundamentalmente em 4 temas, mantenha 30 anos de carreira com tanto sucesso. Olhei para trás e a resposta estava no pó que subia por entre os pinheiros resultante de uns 30 mil espectadores entusiasmados.

Um país que vive em ruminação legislativa

16.07.10, João Maria Condeixa

Para a diarreia legislativa em Portugal só encontro paralelo naquelas velhotas bisbilhoteiras de bairro antigo.

 

Vestidas de igual, normalmente já viúvas, de peles caídas e cansadas, passam horas a falar da novela, dos filhos, da novela, dos netos, da novela, das mercearias, da novela, dos preços das coisas, da novela, das miúdas desavergonhadas do bairro, da novela, da nova mãe solteira da rua, da novela, da vida que a vizinha do 3º esquerdo leva e, como não podia deixar de ser, do preço certo na RTP. Passam horas nisto, paradas, em ritmo lento, a ruminar assunto para trás e para a frente e de frente para trás. Aquilo não leva a nada, já se sabe. Mas ocupa-lhes o tempo, o que na sua idade talvez já não seja mau.

 

Já para o país, esse tipo de comportamento, só faz é mal. Mas vejam lá se não é nisso que andamos com este exemplo dos artigos que ditam as férias judiciais e que têm andado em permanente ruminação legislativa:

 

Os artigos 143.º e 144.º do Código do Processo Civil aprovado pelo Decreto -Lei n.º 44 129, de 28 de Dezembro de 1961, alterado pelo Decreto -Lei n.º 47 690, de 11 de Maio de 1967, pela Lei n.º 2140, de 14 de Março de 1969, pelo Decreto -Lei n.º 323/70, de 11 de Julho, pela Portaria n.º 439/74, de 10 de Julho, pelos Decretos -Leis n.os 261/75, de 27 de Maio, 165/76, de 1 de Março, 201/76, de 19 de Março, 366/76, de 15 de Maio, 605/76, de 24 de Julho, 738/76, de 16 de Outubro, 368/77, de 3 de Setembro, e 533/77, de 30 de Dezembro, pela Lei n.º 21/78, de 3 de Maio, pelos Decretos -Leis n.os 513 -X/79, de 27 de Dezembro, 207/80, de 1 de Julho, 457/80, de 10 de Outubro, 224/82, de 8 de Junho, e 400/82, de 23 de Setembro, pela Lei n.º 3/83, de 26 de Fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 128/83, de 12 de Março, 242/85, de 9 de Julho, 381 -A/85, de 28 de Setembro e 177/86, de 2 de Julho, pela Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, pelos Decretos -Leis n.os 92/88, de 17 de Março, 321 -B/90, de 15 de Outubro, 211/91, de 14 de Junho, 132/93, de 23 de Abril, 227/94, de 8 de Setembro, 39/95, de 15 de Fevereiro, 329 -A/95, de 12 de Dezembro, pela Lei n.º 6/96, de 29 de Fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 180/96, de 25 de Setembro, 125/98, de 12 de Maio, 269/98, de 1 de Setembro, e 315/98, de 20 de Outubro, pela Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, pelos Decretos -Leis n.os 375 -A/99, de 20 de Setembro, e 183/2000, de 10 de Agosto, pela Lei n.º 30 -D/2000, de 20 de Dezembro, pelos Decretos -Leis n.os 272/2001, de 13 de Outubro, e 323/2001, de 17 de Dezembro, pela Lei n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro, e pelos Decretos-Leis n.os 38/2003, de 8 de Março, 199/2003, de 10 de Setembro, 324/2003, de 27 de Dezembro, e 53/2004, de 18 de Março, pela Leis n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro, pelo Decreto -Lei n.º 76 -A/2006, de 29 de Março, pelas Leis n.º 14/2006, de 26 de Abril e 53 -A/2006, de 29 de Dezembro, pelos Decretos -Leis n.os 8/2007, de 17 de Janeiro, 303/2007, de 24 de Agosto, 34/2008, de 26 de Fevereiro, 116/2008, de 4 de Julho, pelas Leis n.os 52/2008, de 28 de Agosto, e 61/2008, de 31 de Outubro, pelo Decreto -Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, e pela Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, passam a ter a seguinte redacção: ........................

O que chove lá fora...

16.07.10, João Maria Condeixa

Praticamente ao fim de 6 meses, descubro uma falha grande na barra lateral: Farmácia Central. Já rectificado o erro, volto a estar em contacto sem receita ou prescrição médica. Passem por lá. Já eu prometo compensar os tempos que andei sem contacto, Maria João.

 

Outro blog que descobri por mero acaso, é também adicionado - ainda que fuja ao temas tradicionais desta República - pois tem qualidade que está à vista de todos: Cocó na fralda. Com ou sem filhos, merece visita.

O morto, o venturoso e Newton à beira de apanhar com a maçã

16.07.10, João Maria Condeixa

 

 

 

Portas não marcou apenas o debate de ontem. Deixou marcas que irão condicionar o debate político até às presidenciais e, com sorte, poderá vir a dizer que foi o primeiro a dar a sugestão que o país precisava. Mas Portas também fez mais que isso. Estampou um sorriso de esperança na maioria dos portugueses, que ainda que vote PS, já não pode, nem consegue ouvir Sócrates. O que Portas fez contribuiu mais para a esperança do país do que o optimismo forçado e anedótico do vosso Primeiro-Ministro que está mesmo, mesmo de saída.

 

Pena que a recta final de um, abra alas à relaxada chegada de outros. Explico: da mesma forma que Sócrates não ganhou a sua primeira eleição - foi Santana que a perdeu - também Passos Coelho não irá vencer as próximas - será Sócrates que as entregará de bandeja -. E isso de andar de governo, em governo que pouco se esforçou para lá chegar, que poucas alternativas criou para conquistar esse lugar, que pouco estudou para mudar um país, também é causa dos problemas em que nos vemos mergulhados. Faz-nos falta a conquista por mérito próprio.

 

Sócrates está em vésperas de actos fúnebres, Portas tem unhas para tocar guitarra e Passos Coelho está de braços cruzados à espera da maçã que irá cair.

Previna-se e viva!

15.07.10, João Maria Condeixa

 

Em tempos de guerra, entre os silvos das balas, os estilhaços e poeiras das granadas e as sirenes de bombardeamento, feliz aquele que tem na sua despensa uns quantos chouriços e uns quilos de cebolas. Estas recordações ao estilo "Allo, Allo!" são hoje recuperadas pelo Ministro da Agricultura ao avançar com esta notícia que espelha bem os dias que enfrentaremos no futuro:

 

O ministro da Agricultura apresentou esta terça-feira a campanha «Previna-se e Viva», que passa por recomendar à população que guarde alimentos na despensa e numa mochila de emergência para responderem a situações de crise.

 

Ou António Serrano tem conhecimento de uma guerra ou ataque terrorista ou então está a assumir que a crise em que o PS nos está a deixar terá repercussões idênticas às vividas por René na série britânica, revelando um futuro preocupante e uma clara dessintonia em relação ao optimismo exacerbado de Sócrates.

O lifting a Sócrates

15.07.10, João Maria Condeixa

Como aqui tentei explicar, a denúncia de falta de alma no PS feita por Mário Soares a semana passada, tinha um só propósito: instigar o PS a descobrir, numa corrida contra o tempo, uma alternativa interna a José Sócrates a tempo de ser lançada com possibilidades de ganhar.

 

Por já ninguém acreditar na vitória, por não quererem hipotecar o seu futuro, ou por temerem - com conhecimento de causa - o descalabro e sacríficio de Governo que os espera, a verdade é que ninguém se chegou à frente. Ainda se ouviram uns rumores, ainda se lançaram uns nomes, mas a verdade é que não se perspectivou ninguém no PS com disposição de substituir Sócrates na corrida daqui a uns meses.

 

Não havendo, a lavandaria socialista terá de começar a trabalhar. E se já parece ter começado, os próximos meses serão ainda mais pródigos no lifting do Primeiro-Ministro: reforçar-se-á a sua inocência em cada um dos processos que prescreverem; enaltecer-se-ão todas as reformas como tendo sido profundas, não contabilizando os recuos que as levaram à estaca zero; apelidar-se-ão, inclusive, de reformas,  algumas medidas que mais não foram que meras declarações de interesse; queimar-se-ão Secretários de estado e Ministros reformuláveis a fim de poupar a imagem do PM e começarão a aparecer artigos que indicam neste sentido.

 

Reparei que um dos primeiros, vinha esta semana no Expresso, escrito por Fernando Madrinha com o título Sócrates contra Sócrates. Outros se seguirão.

Fomos a casa de Teixeira dos Santos

13.07.10, João Maria Condeixa

 

- Tina, o Banco cortou-nos o crédito!

- Então, Nando?

- Eu já esperava. Diz que contraímos empréstimos muito para lá dos nossos rendimentos e que dificilmente conseguiremos responder perante os credores.

- Ah mas isso é óptimo!

- E que os nossos empregos não lhes inspiram confiança.

- Isso é bom sinal... Já estou cansada de ter ver no Governo. Quero-te em casa!

- E que por causa da ASAE já nem sequer podes fazer rissóis para fora para compor o orçamento!

- Felizmente... Que descanso!

- E que a cómoda Luís XIV que estás a pensar comprar para pôr na garagem é puro esbanjamento.

- Ainda bem que estão atentos aos últimos gritos da moda!

- E que andares a gastar dinheiro noutras coisas supérfluas tem de acabar.

- Nessas coisas não fui eu. Foi a tua irmã!

- E que por isto tudo, acabou-se o crédito. É isso!

- Mas, querido, isso são óptimas notícias, pergunta ao teu patrão! Se soubesses como te adoro!