Não sei como estarei quando chegar a velho. Se a minha genética não me trair, o mais certo é, por herança paterna, aparentar menos 10 anos do que na verdade terei, transbordar de saúde e por isso viver, sem obstinação, mas com simpatia, em busca de uma qualquer maleita grave que nunca me há-de apanhar.
Na nossa sociedade já não é bem assim. A necessidade - que nalguns casos até deveria ser vista como um direito - em envelhecer, é grande. No caso do meu pai, que como disse me cravou com os seus genes dominantes, nem é por isso. É apenas um defeito de educação familiar que deu a todos os seus irmãos a pretensão de serem médicos de si próprios na cura de uma doença única: a hipocondria não obsessiva. Buscam, sem se queixarem muito, algo que os atormente no futuro.
Mas no resto da sociedade portuguesa, sobretudo nos grandes centros urbanos, a necessidade em envelhecer e padecer de algum mal é por demais evidente. É a única alternativa que têm para se fazerem notar. Para dizerem que existem. Para que alguém, desprovido do respeito por um ser mais experiente e velho, nutra, pelo menos, alguma compaixão pela alma que, em fim de forças, se quer apenas sentar no autocarro, se quer despachar apenas mais depressa numa fila de supermercado ou que precisa da atenção de um filho a quem deu muito e do qual agora pouco recebe.
Os mais velhos têm dores que não sentem, mas que acusam para ver se neles reparam. E a culpa desse queixume, dessa espécie de defesa cobarde, dessa desculpa trapaceira, egoísta e infantil, não é deles, mas de quem perdeu o respeito por eles e não os vê.
PS - este post serve de remissão por não ter cedido o meu lugar numa fila a uma velhinha, que manifestamente me parecia exagerar as suas dores só para passar à minha frente. Por não ter percebido logo o que aqui escrevo, deixo as conclusões para que outros possam antecipar comportamentos melhores que o meu. Já basta, como escreveu o meu avô materno, a velhice ser uma chatice.