Quando morre, um escritor cessa a sua actividade. Quem cai por terra é só a sua pessoa e não a sua obra. E o que lhe permite esta coisa do fantástico, é uma dualidade conquistada em vida, que nem sempre é compreendida por todos. Aquilo que torna possível separar a pessoa da sua obra e enaltecer a segunda, sem reconhecer a primeira.
Daí que possa gostar de Camões sem grande necessidade de lhe conhecer a pessoa. Ou de gostar de Pessoa sem sequer lhe compreender a vida. Ou de admirar Albert Camus ou Dostoiévski baseando-me apenas nas suas obras e naquilo que outros me contam deles - o que pode, como é sabido, corresponder ou não à verdade -.
Não comungo da visão de Saramago. E por acaso também não sou fã da sua obra, mas ficar preso a um grilho ideológico, que não me permita dar espaço ao génio publicado, é tornar-me num Sousa Lara dos idos 90, é agir como um Comunista perante os génios de direita, é pagar-lhes na mesma moeda e ser tão nhurro quanto eles.
Durante a vida contestei-lhe as opiniões. Agora que morreu, fala-se da criação que deixou. E essa não há dúvida que merece um lugar de destaque.
E o que eu acho estranho é ainda sentir necessidade de escrever um post destes...
PS - Ou o PPM sentir-se na obrigação de deixar uma ressalva destas.