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República do Caústico

Quando o Big Brother és tu que o fazes

31.05.10, João Maria Condeixa

A privacidade ou falta dela é, tal como em nossas casas e no dia-a-dia, responsabilidade do próprio e da exposição a que nos decidimos submeter. Embora as políticas e redes de satélites de vigilância estejam em crescente e haja toda uma crescente moda "muito engraçada" de georeferenciação, toda a restante privacidade depende, maioritariamente, de nós e não assim tanto do contexto em que nos vemos.

 

O facebook, pese algumas definições que possam vir a ser melhoradas, é apenas um recinto que cada um usa a seu belo prazer: como engatatódromo, parlamento virtual, muro das lamentações, diarreia lexical ou constatação metereológica. Cada um diz onde está, com que cuecas anda pela casa e que batidos resolve fazer para combater o Verão. Se quiser incluir o código do Multibanco ou do cofre-forte, a asneira é sua, não do veículo que propagou a idiotice.

 

Daí que estes cyber-manifestantes defensores da privacidade me lembrem o outro que era pródigo a lançar pedras para cima do seu próprio telhado de vidro. Afinal não são eles que alimentam o big brother que criticam?

Sapos presidenciais para todos os gostos

30.05.10, João Maria Condeixa

O inevitável Alegre estava díficil de engolir, mas acabou por ser tragado, tal como se esperava. De côdea para empurrar o sapo serviu parte da direita que nestes últimos dias desencadeou uma birra com Cavaco, o impuro. Com a ajuda deles, José Sócrates - pese a falta de apetite, ainda para mais contra Soares - conseguiu libertar um sorriso e encontrar espaço para enviar um recado ao actual Presidente da República: "agradecemos, mas o esforço feito para agradar a Gregos e Troianos não foi suficiente. Precisamos de um progressista dos nossos!"

 

E da mesma forma que Sócrates teve de engolir um sapo para fortalecer uma candidatura de esquerda, também parte da direita portuguesa terá de enfiar a viola no saco caso queira continuar a dizer que tem um presidente que é seu. É que ainda para mais, por culpa do próprio, a reeleição de Cavaco já não está tão certa quanto isso...

Sinais da crise

29.05.10, João Maria Condeixa

Vi-me, reconheço, mais identificado com aquela mãe - ainda que discordando em parte do discurso - que num sábado à tarde decidiu arrastar o filho para uma manif da CGTP que não era a dele, do que com as mãezinhas que foram arrastadas pelas histéricas filhas para o Rock in Rio às 5 da manhã, porque "as meninas pediram".

 

Prefiro mil vezes que criem um revolucionário - desde que tenha sentido político e não seja um anarca explosivo - do que um histérico-paneleirote que só suspira por um futuro melhor, em vez de lutar por ele.

Dançam ao som da crise

28.05.10, João Maria Condeixa

As incertezas sobre quando serão chamados a governar e o estado em que encontrarão o país por essa altura, inibem quase por completo a euforia que o PSD possa sentir com estas sondagens. Neste momento a crise e e o agravamento que nela as eleições poderão causar são a desculpa perfeita para adiar esse momento até ao dia em que a curva económica se comece a inverter. Só aí a máquina laranja encherá o peito para reclamar o poder com a certeza que fará boa figura. Por enquanto, se puder evitar sujar as mãos no lodo, melhor. Resta saber quanto tempo, Sócrates, não tanto aquele que aumenta impostos - pois nesse aspecto PPC nem parece surgir como alternativa - mas aquele que diz hoje uma coisa e amanhã outra ou que hoje se vê envolvido num escândalo e amanhã noutra escuta ou sms, resistirá à falta de credibilidade e à imagem de desnorte que tem passado. 

 

Daí que realmente tudo isto se trate de uma dança. A imagem não poderia ter sido melhor escolhida: PPC não desejando deixar cair Sócrates, dará uns passos à frente e recuará outros tantos, ao mesmo tempo que alimentará a, cada vez mais fraca, possibilidade de Sócrates se manter no poder. E este agradece e sorri-lhe.

 

Countdown to aMUSE myself (2)

27.05.10, João Maria Condeixa

Lembro-me de os ter visto pela primeira vez há dois anos e ter pensado que só assim é que as bandas deviam poder actuar: ou tocam em palco tal e qual como gravam ou perdem a licença de artistas e recebem uma de sonoplastas. Os Muse, por aí, estariam descansados. E lá vou eu mais uma vez confirmar isso. É já daqui a umas horas..

Mourinho pé-de-salsa

26.05.10, João Maria Condeixa

 

Os homens não choram! - dizem-nos os mais velhos, insistentemente, enquanto somos miúdos, tentando garantir elevados índices de masculinidade, de barba rija e de pêlos no peito. Pois cedo ficamos a saber que quem choram são as meninas, as flores de estufa e os maricas - julgo que esta última não tem conotação homofóbica -.

E é nessa lógica de seres abrutalhados e insensíveis que vamos, estoicamente, crescendo e ganhando sentido do papel do homem na sociedade. O problema é quando, passados uns anos da puberdade, nos deparamos com o discurso contrário: "És um insensível, um bruto! És frio, não tens sentimentos e não percebes nada do que me afecta! - dirão 98% das mulheres portuguesas aos seus respectivos, esquecendo que a culpa não é deles - não é nossa! - mas sim de uma formatação que recebemos quando crianças e que elas agora tentam mudar.

Há quem entenda este percurso? E há quem entenda este post?

 

Eu explico: É que Mourinho, essa máquina infernal de vitórias, de liderança e mau-feitio, ao que parece, também chora. E com isso - babem mulheres portuguesas - parece ter conseguido o melhor de dois mundos. "O homem é perfeito", dirão elas "e ainda para mais tem cabelos brancos que lhe dão imenso charme e também chora! Se ao menos o meu Manel fosse assim..."

 

E a verdade é que, com tanta reviravolta na educação e formação masculina e com tantas vitórias e pormenores do Mourinho, quem fica mal na fotografia é o homem mediano, essa espécie de grande qualidade que já vai sendo rara e que as mulheres vão desdenhando.

 

Restando-lhes, a esses, como a mim, o refúgio na sabedoria popular: quem desdenha, quer comprar! E o Mourinho é um mariquinhas pé-de-salsa!!! 

Domingo de Shopping (2)

25.05.10, João Maria Condeixa

 

 

O trauma de ter sido obrigado a respirar dentro do Colombo é grande! - dirão os leitores ao verem, pelo título, que este post se trata de uma sequela.

 

E assim é. Ainda estou meio-abananado pela turba em que me vi num domingo à tarde - haverá pior? - por causa do tal comércio tradicional que fechado não me serviu de nada e apenas me intensificou o desejo de o ver "desprotegido".

Pois essa turba domingueira que se passeia pelo Colombo tem agora na praça principal o seu mais recente Adónis na versão de 3 andares. Sim, é o CR9 prateado que aparece no novo anúncio da Nike, que lá está.

 

É ver Lisboa dos domingos a tirar fotos "àquilo" - tenho impressão que Cristiano Ronaldo não viu a estátua, senão proíbia-a, de tão mal humorada que ficou - como se fosse a única coisa digna nas redondezas de ser retratada para a posteridade:

"Que se lixe o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém ou o Mosteiro dos Jerónimos, o meu Cristiano está ali e em versão Super XL! Ó amori, tira lá aí uma foto com o meu iPhone rosa-shopping que é pra eu mostrar às invejosas lá do trabalho!"

 

Ainda bem que vem aí o mundial e se acaba a preocupação com a crise, o PEC e os impostos.

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