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República do Caústico

Dentro e fora do estádio

21.03.10, João Maria Condeixa

A verdade é que o clube da Luz devia ganhar mais vezes, pois poucas coisas me fazem rir tanto como os festejos dos adeptos que gritam aos berros "Benfica" entre palavrões tipicamente portugueses. Barrigas a abanar, dentes a saltar, teorias do caralh******, alarvidades de cerveja e tremoço, e Portugal fica bem disposto durante os próximos 3 dias. Estas vitórias são uma espécie de orgasmo para o país que o deixa de sorriso de orelha a orelha e só por isso deviam ser recomendadas pela OMS.

 

Quanto ao Porto, depois de um monumental frango e dois golos na pá, vai para cima de mãos a abanar e a fazer estragos A1 fora sem que ninguém tenha mão neles. Ainda estou para saber quem, no seu perfeito juízo, aluga autocarros a tamanhos animais que partem janelas, atiram pedras e garrafas em andamento e debitam burrice pelos poros. Começo a achar que deviam fixar-lhes um letreiro de "transporte de animais vivos" nas costas das camionetas.

A Senna era dele

21.03.10, João Maria Condeixa

 

Era pequeno quando me deram uma réplica miniatura de um Lótus John Player Special da Fórmula 1. Lembro-me de ter ido identificar o piloto e de a partir daí ter acompanhado e torcido cada percurso, cada curva arriscada pelo Brasileiro. Tal como comecei a ver o desporto-rei automóvel, assim parei quando Imolado - o destino é irónico - Ayrton deixou as pistas, o seu capacete verde e amarelo e aquele ziguezaguear temerário que tantas vezes fez, do impossível, inacreditáveis ultrapassagens. O rei da velocidade faria hoje 50 anos.

Eu é que sou o Prlesidente...

21.03.10, João Maria Condeixa

 

É tão grave o desconhecimento do rookie que chegou a Secretário de Estado sem nunca ter visto um debate parlamentar, como o enxovalho passado por Jaime Gama ao melhor estilo daqueles moçoilos de barba rija que se orgulham de ser" Dux Eternum" que nunca ousaram trabalhar e que percorrem trajados os corredores das nossas Universidades.

  

via Arrastão

Descansar ao domingo enquanto outros escolhem o futuro PM?

21.03.10, João Maria Condeixa

200 mil euros para os cofres do PSD em 5 dias. Está explicada tanta instabilidade na liderança. Perto do partido laranja, o cobrador de fraque é uma versão antiquada de resolução do problema, pelo que em tempos de crise, o que está a dar é fazer umas quantas eleições seguidas para aumentar a liquidez. Tivessem iguais métodos de cobrança e o tecido empresarial português estaria muito mais saudável.

Mas quem lê o Expresso desta semana só pode temer o futuro. Vítima de si próprio, ao adoptar uma vincada bipolarização, Portugal entrega o seu destino ao próximo governo liderado por quem a massa do PSD indicar. Massa essa que, até ao momento em que chega ao poder, não é capaz de se definir quanto ao modelo que pretende para o país. Como Henrique Raposo tão bem caracteriza por outras palavras num rodapé do jornal, o PSD é uma sopa de argamassa tão cheia de tudo, mas tão pobre em valor, que enche, serve o propósito, mas não é bem a resposta ideal para um país que se quer saudável.

Está assente no tijolos autárquicos que se mostram incapazes de pensar o Estado e apenas sabem como conquistar o poder com call-centers, caciques e nos últimos segundos de disputa pela liderança, muito provavelmente, com golpes de secretaria. E é daqui que se vai tirar o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.

Mesmo sendo domingo, depois de se ler o Expresso, não há razões para descansar.

O que chove lá fora...

20.03.10, João Maria Condeixa

Excelente post e lá vai O Jumento carregado de razão:

 

É muito fácil ser de esquerda com o dinheiro dos outros

(...)

A verdade é que nem os subsídios nem a caridade acabam com a pobreza, aliás, nem diferem muito na sua essência, não passam de duas formas diferentes de distribuir dinheiro aos pobrezinhos. No caso da caridade dá quem quer e não é seguro que todos recebam, com os subsídios estatais a contribuição é obrigatória e a caridade estatal torna-se num direito. Associar uma política de esquerda ao volume de subsídios é uma hipocrisia, da mesma forma que o é dizer que graças a esses subsídios diminuiu a pobreza.

 

A pobreza não é apenas um problema estatístico, é antes um problema social com facetas muito diversificadas que não é superado apenas com distribuição de dinheiro. Os subsídios poderão iludir as estatísticas mas nunca resolverão o problema, antes pelo contrário, são cada vez mais os pobres que fizeram da pobreza profissão e que estão bem mais preocupados com o direito aos subsídios do que com o direito ao trabalho.

 

Políticas sociais que medem a pobreza através de médias estatísticas tratando de igual modo aquele que tem poucos recursos porque não tem trabalho com aquele que não tem dinheiro porque não quer ou não gosta de trabalhar têm muito pouco de social e geram mais injustiças do que combate à pobreza, resolvem o problema pela via estatística mas promovem-na e consolidam-na, transforma a pobreza económica em pobreza cultural, transforma um problema numa situação endémica.

(...)

Um recuo com dois anos de atraso

20.03.10, João Maria Condeixa

 

O ensino progressista, distorcido por muitos para um eduquês enjoativo, é pródigo em tentativas, reformas e contra-reformas. O objectivo é chegar a um admirável mundo novo o mais depressa possível, por via de uma atitude pedagógica politicamente correcta que nos liberte de todos os conflitos da vida e nos deixe viver a todos num globo cor-de-rosa.

Reféns de uma mentalidade que prevê consumos industriais de Prozac para atingir tanta harmonia, os socialistas vão esquecendo os pilares fundamentais da responsabilidade. Mas é bom saber que quando experiência os trai, ainda que seja em resultado de "casa arrombada, trancas à porta", vulgo últimas-notícia- de-bullying, voltam atrás e reconhecem os tremendos erros em que caem com estas ideias do socialmente idílico.

 

Traduzindo, Isabel Alçada anunciou que, no âmbito da revisão em curso do Estatuto do Aluno, serão introduzidas alterações ao regime de faltas, “com diferenciação entre faltas justificadas e injustificadas”. Só é de lamentar que tenhamos perdido dois anos para perceber o erro e que, como é comum em Portugal, se esteja a legislar para resolver os problemas de hoje, mesmo depois de sérios e vários avisos por parte da oposição de que a medida não produziria bons resultados.

Hipocrisia política seria não o chamarem

20.03.10, João Maria Condeixa

A novela vai longa, o elenco parece nunca mais terminar e eu até tenho medo que me venham a obrigar a ver o genérico final do caso PT/TVI, mas a verdade é que não chamar José Sócrates à comissão seria admitir que o jogo estava viciado à partida e que não existia ninguém que, politicamente, estivesse disposto a interpelá-lo e a fazer-lhe frente. Mesmo que a comissão de pouco sirva, jamais se poderia assobiar para o lado, fingindo que nada se passa com o Primeiro-Ministro.

Daí que estranhe pertencer à minoria que quer ver José Sócrates na AR a responder ao que sabe sobre o caso. E como já aqui referi, deveria fazê-lo presencialmente e não escudado na prerrogativa de o fazer por escrito.

Parafraseando José Sócrates, "profunda hipocrisia política" seria não o chamarem.

Tentando respirar em Auschwitz

19.03.10, João Maria Condeixa

Refém de um magnetismo indomável, há anos que a minha vontade tinha traçado Auschwitz como destino. E foi apenas com ela, um iPod e um depósito cheio que saí de Praga a meio da tarde e me dirigi ainda mais para Leste.

 

texto publicado no passado sábado na revista "Nós", do jornal i.

 

Adivinha quem escreveu

18.03.10, João Maria Condeixa

"Uma das coisa mais insuportáveis nos partidos à esquerda do PS é o seu moralismo puramente acusatório e a irresponsabilidade da maioria das suas posições. Para o Bloco e o PCP cada drama, cada injustiça, cada sofrimento humano dá automaticamente direito a um direito. Quem ousar mexer em certos direitos "adquiridos",  torna-se automaticamente num ser perverso e diabólico. É preciso deixar uma coisa bem clara: não pode haver direitos adquiridos sem atender às condições de possibilidade dos mesmos - e isto não é uma opção ideológica, é uma fatalidade inultrapassável.

(...)

Portugal é um dos países da OCDE onde a diferença entre o subsídio de desemprego e a remuneração líquida anteriormente auferida pelo trabalhador é menor. Num contexto de desemprego elevado, como o actual, não repensar o regime de subsídio de desemprego implica pôr em causa a própria sustentabilidade financeira desta prestação social, pelo que a proposta do PS é do mais elementar bom senso."

 

Podia lançar um passatempo, uma espécie de concurso que por cada sms enviada  receberia dez cêntimos e tenho a certeza que ficaria rico antes de adivinharem o autor e a origem destas linhas. Mas como sei que me acusariam de capitalismo selvagem, prefiro identificar já a autoria do discurso: João Galamba no Jugular.

Tivesse sido eu a escrevê-lo ou ousado sequer pensá-lo e teria uma corrente de anónimos insultos, mas ser um gajo de esquerda a fazê-lo deixa espaço para dúvida e obriga a tomar tempo para maturar o assunto. Espanta-me a insurgência ao discurso que defende um maior rigor na atribuição no RSI, para poder chegar a quem de facto precisa, e depois tanta benevolência a uma preocupação de principio semelhante, mas que por ser de esquerda já é tragável.

Portugal vive assim, refém desse complexo de esquerda que mina à nascença as ideias e aniquila as discussões que possam mudar o país.