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República do Caústico

Auschwitz-Birkenau 2

01.02.10, João Maria Condeixa

A chegada

Já de costas para a floresta e de volta às estradas de pez negro sigo as placas que em Polaco dizem Oświęcim. O nevoeiro vai sendo lentamente atropelado pelo meu carro e não me deixa seguir mais depressa. Ao fundo, as luzes amarelas distorcidas pelo frio e pela bruma são o único sinal de que Auschwitz está já ali.

Vejo a primeira torre do campo e fico estarrecido, longe de perceber que o que me estava guardado para a manhã seguinte era infinitamente mais marcante. Sigo estrada fora um pouco mais e chego ao cenário que Hollywood teimou em não eufemizar: a entrada de Birkenau (Death Gate).  O impiedoso iPod passava agora a banda sonora do "Empire of the Sun" submetendo-me a um cruel teste à resistência humana. A curiosidade fez com que não cedesse aos seus intentos e feito bravo arregalei os olhos para ver mais e mais longe. Os tijolos, os ferros, o portão, os carris lá ao fundo, o frio, o silêncio de hoje, gritos de ontem, existem e são palpáveis. Sem sequer me aperceber engoli a primeira miligrama de ansiedade que iria pernoitar comigo às portas do mundo inferior. Rodei a chave do carro e virei-me para o outro lado até ao dia nascer.

(continua)

Os custos da Monarquia

01.02.10, João Maria Condeixa

Discute-se hoje a pompa e a circunstância da República - não desta, pois claro - . É excessiva, também o acho, sobretudo se enquanto contribuintes pesarmos as despesas e os recebimentos. Aí a República tem um défice astronómico para connosco.

Mas não são esses gastos que fazem da Monarquia melhor opção. Não é isso que está em causa quando se avalia um sistema político. No limite poderemos dizer que os monarcas de hoje estão mais poupados que os republicanos de agora. E isso até pode ser verdade mas e que fazer quando entra um Luís XIV em cena?

Ora é exactamente aí que reside a diferença essencial: na possibilidade de rotação. Nas Repúblicas democráticas - as outras não me interessam - as despesas, as atitudes, as estratégias e os rumos, podem ser mudados a breve trecho por indicação nas urnas e não pela genética ou pelo sangue. Tudo isto é um custo de oportunidade imenso que pesa na factura da Monarquia. Assim por muito que o voto seja mal usado, o simples facto de existir, faz com que a pompa e a circunstância sejam aspectos infimamente menores na discussão.  

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