Auschwitz-Birkenau 2
A chegada
Já de costas para a floresta e de volta às estradas de pez negro sigo as placas que em Polaco dizem Oświęcim. O nevoeiro vai sendo lentamente atropelado pelo meu carro e não me deixa seguir mais depressa. Ao fundo, as luzes amarelas distorcidas pelo frio e pela bruma são o único sinal de que Auschwitz está já ali.
Vejo a primeira torre do campo e fico estarrecido, longe de perceber que o que me estava guardado para a manhã seguinte era infinitamente mais marcante. Sigo estrada fora um pouco mais e chego ao cenário que Hollywood teimou em não eufemizar: a entrada de Birkenau (Death Gate). O impiedoso iPod passava agora a banda sonora do "Empire of the Sun" submetendo-me a um cruel teste à resistência humana. A curiosidade fez com que não cedesse aos seus intentos e feito bravo arregalei os olhos para ver mais e mais longe. Os tijolos, os ferros, o portão, os carris lá ao fundo, o frio, o silêncio de hoje, gritos de ontem, existem e são palpáveis. Sem sequer me aperceber engoli a primeira miligrama de ansiedade que iria pernoitar comigo às portas do mundo inferior. Rodei a chave do carro e virei-me para o outro lado até ao dia nascer.
(continua)