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República do Caústico

Uma pequena despesa, um enorme desperdício

25.02.10, João Maria Condeixa

Estive ontem num debate sobre a reestruturação administrativa do Concelho de Lisboa e vi a maioria dos intervenientes muito satisfeita com o facto das freguesias apenas pesarem 0,13% do Orçamento Geral do Estado. Assim dito parece uma ninharia, mas convertam-no em milhões e a reacção já é diferente: são 211 milhões de euros.

 

O que em percentagem é diminuto, torna-se numa cifra que já mete algum respeito, mas que é reclamada como insuficiente pela ANAFRE. E é natural que o seja, face às responsabilidades que têm e à atomização em que se encontram, que nalguns pontos do país parece anedótica, como podem ver: Barcelos tem 89 freguesias, Vila Verde 58, Guimarães tem 69, Lisboa 53 e os exemplos poderiam continuar...

 

Se pensarmos que a dita atomização (4260 freguesias) dispersa o recurso financeiro até ficarem migalhas, então os 0,13% do OGE deixam de ser uma pequena fatia e passam a constituir um enorme desperdício.

E este é um dos problemas decorrentes dessa proliferação. 

 

Duas boas notícias

24.02.10, João Maria Condeixa

Será agora, finalmente, que o Estado se passará a portar como rapazinho crescido e a cumprir com as suas responsabilidades e que em caso de não o conseguir, ou for sua opção, pagará o que lhe é devido tal como nos exige a nós contribuintes?

 

Ora aí está um bom tema a ser desenvolvido por estes senhores que também hoje arrancaram com um novo blogue, The Portuguese Economy: The effects of a debtor State on a small country economy (que eles só falam inglês e explicam porquê).

Vou só ali almoçar

24.02.10, João Maria Condeixa

Um dos grandes problemas dos políticos é almoçarem rodeados de outros políticos. O outro é serem reconhecidos de imediato quando almoçam rodeados de outras pessoas. Nunca chegando a conseguir ouvir o mundo real, não se apercebem da apreciação que deles fazem, vivendo à mercê do que os assessores lhes pintam e do que a comunicação social lhes vai passando...

Ah e como andam enganados!

Eu ainda sou do tempo..

23.02.10, João Maria Condeixa

Parafraseando um anúncio do Pingo Doce - não aquele da música irritante - eu ainda sou do tempo em que havia quem governasse um país, em que a gripe A era uma epidemia assustadora, em que a crise era a prioridade das respostas, em que a Justiça era cega e muda, em que o que o PGR dizia não era desmentido no dia seguinte, em que ser ou não "apetitoso" não estava nas condições para se ser político, em que o PSD era um partido de oposição, em que esta lista era muito mais curta...

Agora que deixei de fumar...

23.02.10, João Maria Condeixa

Já está online a crónica que escrevi sobre Cultura para a Nicotina Magazine - o mais recente projecto de João Gomes de Almeida -. O projecto que engloba uma Editora e um portal de notícias de âmbito cultural decidiu arriscar as audiências e pedir-me umas linhas curtas. Aqui fica um aperitivo com dois "Vês". Vão, mas voltem:

 

(...) E a cada paragem pequena dos instrumentos precipitava-se nas palmas, na ânsia de ver o espectáculo terminado, ignorando os olhares reprobatórios e eruditos vindos do Leste. Para no fim, quase, enquanto os outros idiotas aplaudiam e clamavam por “Bravo!” e mais “Bravo!”, se evadir da sala com o raffiné habitual. 
No dia seguinte, voltava a pegar numa caneta de aparo e eles num escopro, martelo e na esfregona cravejada de lixívia.

O que chove lá fora...

23.02.10, João Maria Condeixa

Henrique Raposo, a Tempo e a Desmodo:

 

Na entrevista de ontem, José Sócrates enterrou-se ainda mais: falou como se fosse um "arguido" (que tem direito ao silêncio), e não como um primeiro-ministro (que tem o dever de sair do silêncio).

 

I. Ricardo Costa tem razão: José Sócrates está a confundir o caso PT/TVI com o caso Freeport. O caso Freeport é um caso judicial, mas o caso PT/TVI é um caso político. E a estratégia que José Sócrates usou para o primeiro não pode ser usada para o segundo. No caso Freeport, as críticas devem ser dirigidas à justiça. Os factos que existem não são suficientes para atacar José Sócrates. E as explicações do primeiro-ministro, até ver, foram suficientes. O ónus está com a justiça. Mas no caso PT/TVI o ónus está com José Sócrates.

II. O caso PT/TVI é um problema político, que requer uma resposta política. Que ainda não tivemos. Ontem, na entrevista a Miguel Sousa Tavares, o primeiro-ministro voltou a confundir as coisas. No caso Freeport, José Sócrates tem o direito ao silêncio. No caso TVI/PT, José Sócrates não pode - como fez ontem - refugiar-se no silêncio, nas respostas evasivas ou na lengalenga da conversa privada. (...)

Auschwitz-Birkenau (7)

22.02.10, João Maria Condeixa
 Bloco 11 (II)

A descida até ao Inferno de Dante em Auschwitz faz-se pelas escadas do bloco 11. Pelos degraus estreitos e gastos agarro-me a um corrimão carcomido, já sem tinta e desço. Calco as minhas impressões digitais sobre as daqueles que desceram àquelas caves com destinos tão diferentes do meu: eu viria de lá de baixo com vida. A maioria terá lá ficado para sempre.

As catacumbas do bloco 11 são em formato de labirinto e o tecto fica a uns 20 centímetros da minha respiração. Mas a claustrofobia não mata já ali. Primeiro há que passar por celas minúsculas onde ficavam dezenas de ossos com vida à espera que lhes ditassem o destino. Uma das celas, a única aberta ao público, sem se mexer ou dizer uma palavra, muda-me por completo: dentro daquele bunker, onde o sol não chega, a terra nos aperta e o Inferno teve residência durante tantos anos, um gigantesco círio queima o mesmo oxigénio de 1945. Deixado por João Paulo II quase que me obriga a ajoelhar e a soltar a pergunta que já trazia presa de há tantos metros e horas atrás. Onde esteve Deus durante todo aquele tempo? Remoí as entranhas de católico praticante e tirei-a a ferros. E não recebendo resposta, deixei cair uma lágrima, sequei o nariz e segui viagem com um espaço por ocupar.

Viro à direita naquele labirinto e entro numa sala que não vem nos filmes...

(continua..)

Livrem-na, por agora, de vendas e mordaças

22.02.10, João Maria Condeixa

Isto está grave. De tal maneira grave que começo a pensar se não será melhor a Justiça deixar cair antes a venda até ao nível da boca, pois já que não lhe tapa os olhos, ao menos que a impeça de divulgar tanta trapalhada:

O Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, recusou, ao longo dos últimos meses, o acesso aos seus despachos de arquivamento ao crime de atentado contra o Estado de direito no âmbito do caso Face Oculta. O PGR travou o acesso aos documentos porque estes, alegava Pinto Monteiro, continham escutas entre Armando Vara e José Sócrates. Mas aquilo que o “Diário de Notícias” e o “Correio da Manhã” noticiam hoje é que, afinal, em lado algum aparecem as conversas entre Sócrates e Vara nesses documentos.

Pensado bem, deixem-na antes despida de vendas ou mordaças que depois de escutas "ilegais", segredos de Justiça revelados, mentiras ou imprecisões - a cerimónia que eu ainda faço com a nossa Justiça - o melhor é ela clarificar tudo o que sabe.