Podem não acreditar mas aguardo pacientemente que me enviem um dístico (Portugal adora dísticos) igual aos amarelos das caixas de correio, mas que dê para colocar no carro.
Estou saturado de chegar ao meu bólide e de me sentir como um VIP de meia-tigela que é convidado por tudo e por nada, tanto para um salão de cabeleireiros (quem me conhece sabe que não preciso) como para a pizzaria mais próxima que agora ("agora" para eles significa "sempre") tem descontos imperdíveis. No meu pára-brisas cai de tudo: bate-chapas, electricistas, pizzarias, imobiliária (cromo hiper-repetido), Prof. Karamba e videntes associados, multas da GNR e EMEL, etc. Mas há um destes que odeio mais que todos os outros e que se propõe a comprar o meu carro antes que mais ninguém o faça. Quase todos os dias lá está, no vidro da frente ou no detrás, a desconsiderar a minha peça automobilística, lembrando-me que a cada dia que passa ela perde valor. O tal papel cria rugas no meu carro, causa-lhe artrites e deixa-o deprimido. A mim deixa-me com vontade de o trocar, mas não é com os senhores da dita publicidade, por isso parem de encher o meu carro de papelada antes que eu faça queixa da vossa empresa à "Associação Contra a Desflorestação da Amazónia".