Auschwitz-Birkenau
O caminho
Ainda que nada, nem ninguém, consiga explicar o magnetismo, há anos que o destino estava bem marcado na minha vontade. E foi apenas com ela, um iPod e o depósito cheio que saí de Praga a meio da tarde e me dirigi ainda mais para Leste.
Para trás ficara um mapa que só nos faz falta quando nos encontramos perdidos, já noite cerrada, algures na fronteira entre a República Checa e a Polónia. Fora da auto-estrada que fora cortada sem aviso prévio e depois de itinerários principais, os caminhos de cabras semi-asfaltados são a única via para nenhures. E não há vivalma que àquelas horas nos indique que a floresta negra, que se vai erguendo diante dos nossos olhos, tem limite conhecido.
A vegetação vai-se adensando, as casas desaparecendo, as luzes evaporam e só a Lua permanece pendurada no tecto. Os ursos e lobos, esses, nem se mostram, assustados que ficam com a presença estranha no seu reino. Durante quilómetros a estrada vai-se afunilando e a gasolina também. Mas o ponto de retorno já fora passado há muito e apenas para a frente restava a solução. Nesses momentos, a arma contra o desespero humano reside numa gota de racionalismo puro que nos empurra para diante e não nos deixa acobardar. Mas "Estupidez" também serviria como sinónimo.
Sumido no fim do mundo prossegui a marcha até um muro de granito, de aspecto soviético, que brotando do chão me dava a ler "Wodzisław Śląski". De tão aliviado que estava por ter visto obra humana, nem sequer me preocupei com a tradução e tão pouco me lembrei que aquela inscrição talvez me quisesse alertar que o mundo acabava ali. Mas não, o mundo acabava uns quilómetros mais à frente. (continua...)
(Wodzisław Śląski)