Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

República do Caústico

Europa e China sem almoços grátis

28.12.10, João Maria Condeixa

Há uns tempos referi aqui que seria errado, de resto como em qualquer outro negócio entre duas partes, considerar o apetite da China pela dívida portuguesa, ou de outros países da Europa, como um acto vampiresco ou, por oposição, inocente e caridoso. Em nenhum destes dois pólos reside a resposta.

 

A China tem graves problemas internos e sabe que o seu crescimento é por demais insustentável, sobretudo se não tiver bem oleados e saudáveis os seus mercados de exportação. No dia em que os seus principais importadores lhe barrarem a porta, aqueles trabalhadores que hoje são explorados morrerão à fome numa assombrosa crise interna. Daí que hoje façam este gesto de compra das dívidas públicas para minimizarem sobre si quaisquer impactos negativos externos. Esta necessidade de abraçarem a Europa, alguns dos seus problemas e alguns dos seus costumes, chega ao ponto, de, como diz este cronista da Reuters, os tempos se terem invertido chegando os Chineses a desejarem Feliz Natal entre si e cá para fora, quando há uns anos seriam perseguidos por tal acto. A Europa está a entregar muito de si aos Chineses, mas a verdade é que a China nem por isso se consegue manter imutável, absorvendo muito do capitalismo e das democracias liberais europeias.

 

Mas não fiquemos por aqui. A abertura da China fomenta receios e cria atitudes proteccionistas antagónicas na Europa. Se eles por lá se abrem ao mundo, a Europa por cá vai descobrindo que tem todos os flancos abertos e que talvez esteja na hora de, pragmaticamente, se proteger um pouco mais. Tal como é aflorado aqui: Chineses estão a comprar tudo. Bruxelas diz que é perigoso.

 

No fundo, estão os dois a fazer percursos inversos. Chegará o mundo ao ponto de equilibrio, essa obsessão da economia?