As mais belas fardas do Hospital de São João
O fetiche é grande e praticamente universal. Não há homem que não sonhe entrar, combalido, num hospital perto de si para ser atendido, auscultado, encaminhado, apaparicado por uma enfermeira loira, esbelta, sorridente, inteligente e de seios comprimidos sob a farda que parece querer explodir a qualquer instante.
E se os momentos de crise não apagam estes laivos de predador sexual Neandertalensis, deviam apagar os hábitos despesistas que desde então o homem foi adoptando para seduzir, quanto mais não seja, financeiramente, o sexo oposto. - Calma, feministas deste mundo, que não estou a dizer que a culpa da crise é das mulheres ou dos homens bacocos e embevecidos por vós! -
Refiro-me, sim, à atitude esbanjadora de gastar um milhão de euros num novo fardamento no Hospital de São João, no Porto. Um milhão de euros para 4800 funcionários serem vestidos pela mão artística de Nuno Gama. Sim, porque o velhinho costureiro à esquina do Bulhão deve ter deixado o ramo e agora só estilistas afamados poderão tratar as nossas enfermeiras da inbicta.
Se fizermos as contas dá 200 euros por bata, o que me parece manifestamente exagerado. Ainda que cada um tenha três, isso representará 70 euros por cada uniforme, o que me continua a parecer caro demais para uma instituição que pode recorrer a uma fábrica directamente e adquirir o que pretende por, provavelmente, 10 singelos euros. Pagar 20 ou 7 vezes mais é desperdiçar preciosos recursos que poderiam ser canalizados para mais do que vestir pessoal, mas é, infelizmente, o espelho de uma mentalidade esbanjadora que irá executar um orçamento de estado que se quer profundamente rigoroso e controlado.
Um conselho: poupai. Até porque para a maioria dos pacientes masculinos, se para poupar, a saia tiver de ficar um pouco mais curta, não vem mal nenhum ao mundo.
PS - Faltou ao Público, estabelecer, numa prova séria de qualidade jornalística, um termo de comparação para percebermos o quão destorcida é a medida.