Das greves gerais, da direita e da esquerda

Nem por um segundo, o PS, caso estivesse na oposição e pudesse fragilizar o governo, hesitaria em ir para a rua juntar-se à CGTP ainda que as reivindicações e os cenários fossem os mesmíssimos que agora atravessa. Não haveria socialista que não tivesse já fomentado a onda necessária para que este governo caísse, tal como vi acontecer - e sem isentar ninguém de culpas - com o governo de Santana Lopes.
"Ai, se isto fosse no tempo do Santana já teria caído o Carmo e a Trindade!" - ouve-se a direita dizer e com razão. O PS não tem a mesma tolerância à dor, o mesmo poder de encaixe, não se importa se está a atirar pedras tendo telhados de vidro e - está-lhe na massa do sangue - é capaz de pôr a mão na anca, bater o pé e descambar meio Portugal caso isso lhe perspective poder, ainda que concorde com parte daquilo em que está a bater.
A direita não. Guarda-se naquele cavalheirismo e conduta de família conservadora - que no filme do facebook valeu àqueles meninos de Harvard um valente barrete enfiado - e é incapaz de dar um murro na mesa, apesar de ser sobejamente reconhecido que tem autoridade e razões para isso. Mas também este comportamento lhe está na massa do sangue ou não fosse a direita considerada reaccionária, ou seja que reage, o que significa que para agir já alguém teve de fazer merda primeiro. E a sua ponderação servirá para equilibrar o feito.
Só por toda esta antropologia política é que vai para a rua quem vai e fica em casa quem fica. Sendo que nem uns, nem outros estão no ponto perfeito para que isto ande para a frente.