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República do Caústico

Aos moralistas nas crises: cada um sabe de si

03.10.10, João Maria Condeixa

 

Não fui aos U2. Não fui, nem devo voltar a tentar ir a nenhum concerto dos irlandeses. Sou o que se chama um traumatizado: há um ano e meio, com bilhetes comprados para o avião e para o concerto de Barcelona, tive de cancelar tudo a três dias de partir. Daí que não tenha sequer pensado em arranjar uma entrada e tão pouco tenha inveja daqueles que ontem e hoje vão a Coimbra bater o pé.

 

Mas nem por isso me tornei num daqueles moralistas da censura que, da esquerda à direita, ao mínimo vislumbrar do magote de gente que comprou bilhetes para o concerto, abre a boca para dizer: "..e ainda dizem que estamos em crise!".

 

Dos pseudo-liberais de direita, aos  falsos anarcas de esquerda, passando pelos libertários-de-coisa-nenhuma, encontramos sempre quem tenha a mesquinhez de largar um petardo desses, esquecendo que as suas prioridades podem não ser as de outros e que quem comprou um bilhete para os U2 poderá ter liberdade financeira para isso e muito mais, ou então optou por cortar noutras coisas que não lhe fazem falta para completar a sua felicidade, como lhe fazem os U2 ou outros rouxinóis do género.

 

E quem comprou esses bilhetes com os olhos da cara, talvez não retire de uma camisa Ralph Lauren, de um  charuto de Havana ou de uma prestação mais elevada por outra assoalhada, nada mais que o que retira de uma camisa da H&M, de um  simples Marlboro, ou de um arrendamento modesto e por isso talvez opte por estas extravagâncias.

 

É bem verdade que vivemos - ou pelo menos vivíamos, não sei se depois de Sócrates haverá hipóteses para isso - numa época de consumismo desenfreado, mas ainda assim cada um sabe de si.

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