Sobre a crise que se arrasta, André Abrantes Amaral, "Quem não tem um amigo em Londres?":
Há quase vinte anos que estamos nisto. Vinte anos. Para mim e os da geração a que pertenço é mais de metade da vida. Chamam-lhes ‘os melhores anos’, os mais produtivos, mais criativos e originais. Para muitos, já eram. Vinte anos é demasiado tempo para continuar a viver o dia-a-dia da maneira definida pelos outros. Em muitos países, vinte anos é o necessário para se exigir uma atitude diferente.
É pena que o tempo passe tão depressa. Ainda ontem Guterres dizia que o país era um pântano e por isso se ia embora. Não se queria sujar. Sujámo-nos nós e sujos continuamos a chafurdar na lama à procura de coisa nenhuma. O tempo vai passando e se a geração dos 30/40 anos hipoteca os seus sonhos ou se vai embora, a que tem 20 e até para os miúdos com 10 anos de idade o futuro não se pode dizer que seja risonho.
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Quando gente instruída prefere ir-se embora a mudar de governo, fica-se com a impressão que o problema é de fundo. Não há nada mais desonroso para um país que o seu povo querer ir embora.
Infelizmente, AAA, é pior e mais desonroso: o seu povo não quer ir embora. Vê-se é obrigado a isso...